28.4.09

_maré embriagada

me forçaram a ser alguém
alguém que eu não quis ser
eu perdi a minha infância
na maré embriagada da ânsia

se abri a boca para expressar
rogaram-me montes de maldições
se calei meus pensamentos
me trancafiaram nas piores condições

(coma da minha carne
beba da minha urina
caminhe dentro da sua doutrina
desencarne e reencarne)

estuprou os meus sonhos
como se fossem belos anjos
regozijou de prazer enfadonho
sobre a carcaça que esbanjo

sentiu meu sangue em suas mãos
encarou o meu olhar sem vida
jogou suas preces contra o chão
minha alma não foi absolvida

achou que era deus e eu adão
você me tornou o que eu sou
voltei para retribuir sua ingratidão
não se pode matar o que não criou

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