27.12.08

_01/01/2009

Dia um de Janeiro de dois mil e nove
O dia depois da última noite do ano
Fogos de artifício, fogo de bebida
Gritaria e música alta na orelha da costa praiana
Saudades do ano velho que já se foi
Já era hora, já era tempo
Morreu o que passou e nasceu o que virá
Aproveito o hoje, esquecendo o ontem
Vivendo o presente e aguardando o futuro
Dia um de Janeiro de dois mil e nove
A ressaca machuca a cabeça esquecida
Bafo azedo, moça roncando
Gritaria e silêncio na orelha da desconhecida
Saudades da hora em que eu estava sóbrio
Era hora, era tempo
Esse ano novo nunca mais será o mesmo
Terei um filho ou filhinha
Esqueci-me da camisinha...

FELIZ ANO NOVO!!!

21.12.08

_então é natal

Finalmente o bom velhinho vai sair de sua casa, no pólo norte, e distribuir para toda as crianças do mundo, sua mensagem de amor, de esperança e presentes. É fato marcado que algumas crianças quando perguntadas sobre quem é Deus, descrevem uma figura similar, senão exatamente igual, ao velho pólo-nortista.

No mundo cristão, o natal é a celebração do nascimento do menino Jesus, símbolo principal de toda a religião pós-judaica. Sendo assim, com quase 33% de toda a população mundial sendo cristã (católicos, protestantes, etc), o natal é uma das festas pseudo-religiosas mais globalizada do mundo. Ao modo de ver desses mesmos crentes, essa festa é motivo de celebração e perpetuação das mensagens de paz e harmonia entre todos os povos, mas de boas intenções o inferno está cheio. Mantendo o pensamento niilista da Igreja e acompanhando os relatos bíblicos, os fiéis não só relembram do nascimento do seu Messias, como também, o fato de seu retorno estar, possivelmente, cada vez mais próximo. Lendo algumas páginas do livro de apocalipse, podemos relatar fatos fantásticos e inimagináveis para meros mortais como nós - “E vi subir do mar uma besta que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre os seus chifres dez diademas, e sobre as suas cabeças um nome de blasfêmia, APC 13:1” - e ao mesmo tempo, paramos para pensar sobre o tal dia que há de chegar.

Com todas as palavras de esperanças contidas neste livro, os próprios fiéis sentem calafrios ao ouvirem termos como “besta” e “sofrimento eterno”. Por outro lado, enquanto nós cristãos aguardamos o dia do retorno de nosso Messias com certo distanciamento, pessoas que passam horrores muito mais assustadores do que os relatados na Bíblia, anseiam pelo dia descrito a tanto tempo atrás.

Li a pouco uma matéria na VEJA – manipuladora, mas com informações relevantes – que me deixou intrigado e pensativo. Enquanto o simbolismo natalino é espalhado e vendido por empresas publicitárias e companhias de telemarketing, milhares de pessoas são postas sob a opressão e o desespero de vivenciarem um genocídio sem fim no coração da África. Cristãos de países desenvolvidos fazem trabalhos missionários, acreditando que disseminar a palavra de Deus para os povos menos afortunados, trará a salvação, talvez não neste mundo, mas noutro. A resposta é dura e sincera: “Precisamos de Cristo não porque os homens se esquecem de ter fé, mas porque, com freqüência, eles abandonam a Razão e cedem ao horror”.

É triste saber que ainda, depois de tantas décadas, o homem não aprendeu com os seus erros e pior, insiste constantemente em repetí-los. Guerras pelo poder e pelo dinheiro, como crianças disputando um canto melhor do playground. Fronteiras dividindo países, pessoas, famílias, esperanças. Ditadores disfarçados de políticos e políticos disfarçados de revolucionários. Um mundo, onde as pessoas não podem confiar nem em suas próprias sombras, declama que o Natal vem aí para trazer amor e esperança.

Escrevo a minha carta para o Papai Noel com cópia para Deus e peço a eles que leiam com atenção e compreendam a minha boa intenção. Se é que algum dos dois existe, venham e terminem de vez com a dor de tantas pessoas no mundo. Ajudem aqueles que precisam e merecem – relativo – ser ajudados. Quantas mais lágrimas e quanto mais sangue a terra há de degustar até o Salvador retornar? Me sinto infeliz por saber que essa carta não tem destinatário real e nunca será respondida, mas mais infeliz eu fico de saber que a culpa é do homem e o homem nada faz para mudar.

16.12.08

_empurrão para a vida

Tudo escuro e tão apertado
Ouço um cantarolar gostoso, me acalma
Uma sensação morna e aconchegante
Respiro fundo e aproveito cada segundo
Claustrofobia - preciso me soltar de uma vez
Empurro, aperto, empurro com força!
O cantarolar cessa por alguns instantes
Tenho medo do que pode estar acontecendo
Junto todas as minhas forças
CRACK!
Uma luz penetrante machuca meus olhos
O cantarolar retoma de onde havia parado
Mas está diferente, parece falar comigo
Está pedindo que eu cante com ele
Nunca falei antes na minha vida, como se faz isso?
Engulo a secura da minha garganta
Tento me posicionar de alguma forma que pareça certa
Tento, mas falho
O cantarolar continua me incentivando
Tento de novo, estou quase lá!
Só mais um pouco...

PIU!

10.12.08

_fugir (de vez)

Quantas foram as vezes em que perguntaram para você o porque de suas revoltas, o porque de suas vontades, de seus desejos mórbidos? É tão fácil olhar para as pessoas subindo e descendo as ruas com um sorriso conformista no rosto, brincando de tenho-uma-vida-boa. Bando de hipócritas - ha ha ha!

Será que é tão difícil assim assumir que se é infeliz? Todos deveriam encarar a realidade das suas vidas inúteis e desprezíveis e tentar viver com elas, seja lá como for "melhor". Já disse Saramago: "não sou pessimista, o mundo é que é péssimo" - compartilho com certo orgulho das idéias do mesmo. Querem que eu seja mais positivo, mas como? Me mostrem algo nesse mundo que traga felicidade sincera, algo completo e perfeito, amor de verdade, carinho honesto... não tem nada disso nesse mundo esquecido por Deus - você está ouvindo? - que faça de qualquer ser humano, um ser completo e verdadeiramente feliz.

Dinheiro!!! - gritou o imbecil.

O que o dinheiro oferece para todos é a ilusão de uma vida próspera. Se nem mesmo os sentimentos ditos decentes podem suprir o buraco com que nascemos dentro de nós, o que o dinheiro vai poder fazer? Carros, casarões, viagens, "etecétera e tal". Tudo não passa de uma ilusão, afinal aquilo que vem das mãos do homem só pode destruir, só pode fortalecer a auto-destruição tão característica em todos nós homo sapiens sapiens! Velhos podres de rico tem o coração mais podre ainda... são mesquinhos e dignos de dó. Com seus narizes empinados e sua maldita arrogância costumeira de sempre, eles conseguem trazer o pior para esse mundo e para os pobres iludidos que sobrevivem ao redor deles.

Ninguém sabe como é tentar não acordar - não como foi para mim - e falhar miseravelmente todas as vezes, sempre se arrependendo depois por não ter levado tudo adiante. Querem saber como foi? Ouçam minhas palavras! Querem provas? Olhem meus pulsos! Olhem meus olhos! Enxerguem dentro da minha alma e achem o que tanto procuram: dor, sofrimento, solidão, desespero, carência, desilusão, ódio, angústia, raiva, nojo, enjôo. "Seja feliz, vá viajar, não pode ser tão ruim assim, ache Jesus". Chega de tantas mentiras, pra que tudo isso? Você não me conhece, não sabe como eu sou por dentro, não sabe o que eu passei por sua causa - nunca vai querer saber - e por causa de todos os outros... o que eu me permiti fazer, deixar de fazer...

Gostaria de conhecer alguém que pudesse mirar uma arma contra minha cabeça e atirar... atirar... atirar... e atirar mais uma vez. Explodir meu crânio e espalhar todos os pedaços do meu cérebro pela rua, dispersados pelos carros que passam em alta velocidade. Escrevo isso com alegria em meu coração, afinal eles dizem que devemos amar o nosso próximo como amamos a nós mesmos. Não tem ninguém que faça o "próximo" mais feliz do que eu. O "próximo" quer me ver sofrer, cair, chorar, perder, mentir, surtar e ele sabe que consegue isso com pouco esforço. Assim sendo, eu o faço bem, o faço feliz. Sou um perfeito discípulo - cordeiro em meio a lobos - de Deus.

Já fugi e não me arrependi. Fui covarde e ridículo, mas fui livre. Eu podia sorrir sem remorso e podia chorar por estar feliz - coisa rara. Fugiria mais uma vez, mas sem retroceder, sem me desviar do meu objetivo principal. Morrer.

_Seien Sie mein nur, für immer!

Der Ton der Rosen und des Geruchs des Winds, laufend nach der Oberfläche meiner Haut.
Verwundet durch die Sünden habe ich in der Vergangenheit festgelegt, aber hoffend, einen Ausweg heute zu finden.
So hat meine Zukunft eine Geschichte, zum zu sagen.
Können Sie die Wörter lesen, die ich hier spreche?
Können Sie das sein, zum zu gehen dieser Weg mit mir?
Schwärzung ist mein Freund, meine geliebte Braut.
Gehen Sie nicht weg von ihr, lassen Sie sie Sie umfassen und Ihre Seele eintragen.
Lassen Sie die salzigen Risse, die auf ihren Selbst trocken sind.
Verbreiten Sie Ihre Flügel und fallen Sie in den Ozean von Träumen.
Seien Sie mein nur, für immer!



[tradução nos comentários]

9.12.08

_começa o fim, mais uma vez

Começa o fim, mais uma vez - fim infinito, fim sem final
Os raios de sol escondidos por trás de nuvens negras
O trovejar dos gritos dos anjos - morrendo, sangrando
Ecoam no vácuo que existe dentro de mim
Não mais corro atrás de você, não mais
Sonhos e desejos tornaram-se pesadelos indecentes e obscenos
Obscuridade proeminente dentro de meu coração
Resgate orgulhoso de uma alma vendida ao próprio cão
Maldito anjo caído que tomou-me sob suas asas de amor e ilusão
Reneguei minhas raízes, deixei tudo para trás
Apodreci por dentro e me tornei oco como uma árvore podre
Caí sobre minhas próprias expectativas, deparei-me comigo mesmo
Encarei de frente um mau que residia dentro de mim - adormecido
Uma besta inescrupulosa e vil, sedenta por sangue e lágrimas
Corroendo as minhas entranhas e sucumbindo-me a uma dor indescritível
É o fim
Mais uma vez é o fim
Clamo aos demônios perturbadores, aos seres pútridos da terra
Que ao fechar os olhos, a imagem maldita de um novo dia não venha me assombrar
Mais uma vez
Em mais um fim

4.12.08

_do fundo do oceano

Tantas histórias, passagens, para contar. Fábulas perdidas em mares nunca d’antes navegados – faltam-me palavras próprias que enxuguem meus olhos e acalmem minha euforia nostálgica. Lutas, derrotas, fatos – mentiras (, talvez).

Frases prontas, formadas, tornam-se velhas amigas e (certo tipo de) autoflagelação – sob o olhar distante da minha insegurança. Todavia, ao recordar-me do passado tenho em mente os anjos – querubins astutos e desocupados – que sobrevoavam com imponência os meus caminhos, minhas escolhas – alheios aos meus passos, observavam apenas o caminho. Velho e doente me tornei por causa deles, meninos alados que não são meninos, nem meninas – porque haveriam de “ser”? - que teimavam em opinar nos caminhos que escolhi percorrer. Trouxeram, para mim, angústia e desolação – solidão. Abatido eu me tornei e os cruéis seres das sombras sabiam o que fazer. Monstros cruéis e escarnecedores, mutiladores desprezíveis dos sonhos que não me lembro mais – demônios. Cantarolando cânticos profanos, atormentando minh’alma doente.

Diante do absurdo da minha consciência espiritualista e senil, o céu continua azul.

E o mar? Inúmeras vezes eu tentei sair do mar, mas o mar nunca quis sair de mim. Ele permanece eterno sobrevoando a imensidão de um mundo submerso, desconhecido – até mesmo para este velho lobo do mar. O toque suave da marola e a violenta tempestade abatendo os corações de mães viúvas e filhos órfãos. O mar tende a me fazer perder o fôlego e a razão, me faz fugir do assunto e delatar todos os seus atos majestosos sobre a terra.
Quantos tesouros estarão escondidos? Quantos homens foram em busca do brilho de pedras preciosas e não voltaram mais? Assim trouxeram a discórdia e a desilusão de uma paisagem tão falsa, tão irreal. São pobres diabos, porque não haveriam de ser? Lançam aos tubarões tudo aquilo que têm, em busca de esperança – do tipo que se compra. São aventureiros de corações solitários. Lembro-me de um marinheiro – amigo antigo, foi-se o tempo – que dizia: Ser só e ser solitário são coisas completamente opostas. Posso muito bem estar sozinho, mas não me sentir solitário.

“Terra à vista!”

Malditos sejam os gajeiros e seus olhos de águia – vêem com eficácia terras e barcos a milhas de distância. Mas minha realidade é outra. Enganei-me todas as vezes que ouvia os gritos do cesto de Gávea. Procurava refresco, um pedaço de terra – nem que uma ilha – para deitar a cabeça e descansar os pés sem sentir a leve e discreta maré nauseante, mas só encontrava mais motivos para suspirar de desgosto. Nasci homem do mar, filho de homem do mar e por isso me faltam tantas cousas, principalmente sorte. Nunca conheci um adepto tão crente em sua má sorte, como eu. Pessimismo é para os fracos, eu relato aquilo que tive de viver – relato com sabor azedo e textura áspera.

Pode ter um homem do mar esperanças de encontrar outras histórias para viver? Outras lamúrias para chorar, outras desgraças para murmurar? Terei eu o ombro d’uma outra mulher a se amar? Sozinho, louco e deixado para trás como um animal sentindo o êxito da morte sobre ele, afastando-se da manada para não causar problemas maiores do que eles já têm. Mas você não me via como um problema, não é mesmo?

Infinitas foram, e hão de ser eternamente, as vezes que me ajoelhei perante os deuses para implorar que trouxessem você de volta a mim. Porém são deuses a quem eu rogo, e deuses são assim, omissos. Na embriaguês do poder e da glória, se esquecem dos homens que nada têm a ofertar em troca de seus benditos milagres – nada têm, por nada possuírem. Cansei-me de esperar por um anjo que venha do céu, foram-se os malditos querubins e nunca mais voltaram para partilhar de minhas caminhadas, meus caminhos. Eu amaldiçôo todo o céu e todo o mar! Sua virtude divina e esplendorosa arrancou de mim o coração, jogou-me ao longe para morrer. Mas do que adianta, se você não voltará mais para mim?

Foram tantos os momentos alheios, acontecimentos adentrando em nossas vidas, que me esqueci de olhar em teus olhos e beijar-te ante todos nossos encontros e desencontros. Fugiu-me a lembrança de que você estava ali, ao meu lado, esperando por um dia melhor. Perdi teu abraço, e choro por não ter teu beijo. Passou o tempo, passou o mundo, mas ficou a dor. O ranger do abrir da porta da frente, a escuridão da sala e o silêncio que confirmava a sua ida sem volta. Pregaram-me essa peça, o mar e a sorte, juntos. Não posso ter sido o culpado, não posso acreditar que fora eu quem fez você me largar. Será?

Como anseio em te encontrar – dizer que te amo. Mas como dizer se não sei mais o que é amar. Nem ao menos sei se estou deitado na rede de descanso ou na rede de malha fina que me fisgou.

Adeus.

1.12.08

_ensaio sobre o "amar"

Amar não é algo que você decide, – não se espantem a toa – que escolhe de uma hora para outra. Há enganos, não posso negar, aliás como começar a amar se não por mero acaso? Um dia no parque, sol do meio dia, meninada no playground, as babás e as mães observando ao longe para não estragar a brincadeira. Você levanta do banco, caminha até um bebedouro para refrescar os pensamentos e pronto! Dá de cara com uma moça que pensou a mesma coisa que você, naquele mesmo momento, naquele mesmo bebedouro. O gaguejar dos dois desconhecidos, o cavalheirismo de sua parte e o sorriso de satisfação da moça. Enquanto sua mais nova colega de sede mata quem a estava matando, os teus olhos não deixam de reparar – “Mas como é bela essa moça! Será que devo perguntar seu nome? Talvez um passeio, um sorvete? Mas que bobo sou eu, com esse corpo ela não deve comer nada que contenha glúten e afins... Opa! Recomponha-se ela está terminando de beber”. Pode beber, ela diz. Você engole o medo e arregala a coragem, mal consegue escutar o que sua boca pronunciou e, finalmente, o sim. Curioso como todas as mulheres que amei, conheci em locais dos mais diversos, dos mais estranhos e com seu pequeno teor de fantasia, fetiche. Não adianta planejar o amor, é uma guerra perdida – dica de profissional. Deixe o trem seguir o rumo, o navio desancorar e quando menos esperar terá ao seu lado, alguém para amar. Nada de aguardos ou anseios, mesmo aqueles do tipo corriqueiros. Afinal, amar não é plano ou garantia, mas é a sensação inesperada de sentir um pedaço de você faltando, no momento certo em que a troca de olhares passa a ser uma troca de almas.

Para bom entendedor, meia palavra basta. Mas para aqueles que precisam de um empurrãozinho a mais, continuo a explicar – sem ressentimentos. "Mergulhar de olhos abertos", isso é amar. Saltar em um lago sem saber a sua profundidade e o que há dentro dele, guardando dentro de si a sensação de que não será nada mais do que um mergulho perfeito e dos mais refrescantes. O amor não é eterno (só enquanto durar), tão pouco é perfeito, mas amar é uma iguaria deliciosa de sabor único – daqueles de prolongar a mastigação e lamber os dedos. Alguns amigos já me diziam que homens e mulheres têm uma coisa em comum, o repúdio e a indignação ao sexo oposto e a necessidade de estar e amar o sexo oposto.

São tantos os tipos de amor para se amar – quem disse que eu estou certo? Tantas amantes para se tentar – ambigüidade proposital – e muito pouco tempo para esperar. Amar é viver com um sorriso besta estampado no rosto, sem saber o porquê – sem nem querer saber.

29.11.08

_momentos, silêncios

Antes de começar a ler saiba que: "Não vou pensar para escrever, não vou usar as melhores colocações. Talvez até escreva errado. E qual o mal nisso? Eu quero apenas escrever um desabafo."


Tudo se trata de momentos!

É com essa frase que começo esse pequeno texto. Os momentos são como as notas não tocadas naquela música que você tanto gosta - o silêncio. Tente imaginar, ou ouvir, o que eu estou querendo dizer: um pandeiro tocado sem momentos, sem silêncios vai ser apenas uma batida incessante e chata. Até mesmo músicas polifônicas tem seus instantes, seus vazios completando todo o contexto de "música completa". Com isso em mente, tente ver a sua vida sem os momentos. Viver por viver é chato e massante! Trabalhar todo o dia fechado em um escritório sem ter aqueles momentos - bons ou ruins, a porcentagem é relativa - é o motivo numero 1 para alguém decidir que saltar de uma janela no décimo terceiro andar é um bom divertimento.
Sem os momentos, os silêncios e toda essa pata quada, a vida nunca se completaria. O último grito de uma mãe dando a luz, o suspiro de um pai quando vê seu filho se erguendo e começando a andar, a hora de chutar um pênalti, a troca de olhar com uma garota...

"O beijo! Com certeza é o meu silêncio preferido. Com o beijo você descobre muito sobre as pessoas, seus trejeitos, seus maneirismos, suas qualidades, suas virtudes - ou não. Beijar é deixar de lado o que acontece ao seu redor, é não pensar em ninguém, é se deixar "ir" sem planejar nada. Beijar é viver um momento, curtir um silêncio. Não sei vocês, mas eu estou pronto para viver meus momentos e transformá-los na história da minha vida."

É engraçado pensar em momentos e silêncios, é uma brincadeira sadia e gostosa de se fazer. Tudo bem que tem certos momentos que parecem botar tudo a perder. Momentos ruins fazem parte da vida e deve-se ser grato a eles também. Já pensou? Se tudo fosse fácil, onde estaria a graça da conquista? Como você poderia saber se valeu a pena? Como julgar as situações, os ganhos, as perdas? Seriamos todos maníacos depressivos achando que ganhar na loteria todos os dias é algo corriqueiro e triste.

"Momentos são silêncios... O paraíso e o inferno são um momento e vocês são o meu silêncio"

Talvez eu esteja mais pregando do que me explicando - culpa de Charles - mas não haveria de ser de outra maneira. Tem que ser assim, isso é apenas um silêncio...

Tentem ler as palavras que eu não escrevi.

_filho da...

Filho da Maria
Filho da Letícia
Filho da Tia
Filho da Ana
Filho da Rita
Filho da Antonieta
Filho da Graça
Filho da Desgraça
Filho da Madrasta
Filho da Fernanda
Filho da Mariana
Filho da Cobiçada
Filho da Mal-amada
Filho da Hortênsia
Filho da Joana
Filho da Diaba
Filho da Macabra
Filho da Bruxa
Filho da Augusta

Filho da Puta!

27.11.08

_big bang

quão é o tempo receoso
ostentando o espaço infinito
gerado na minha época de menino
num conto todo garboso
que minha avó me contara
tempo que a terra era quadrada

24.11.08

_2/4

São dois quartos que nos separam
Dois quartos seus e meus
São dois quartos da minha mente
São dois quartos de distância
Dois quartos de dor e sofrimento
Dois quarto do meu pensamento
Tudo que tenho está em dois quartos
São dois quartos sem luz
Dois quartos sozinhos
Penso sobre os dois quartos
São dois quartos de muito pesar
Em algum lugar tenho dois quartos de esperança guardados
Dois quartos de amor, de união, de vontade
É engraçado que são dois quartos que nos separam
E são dois quartos que nos faltam

_mania de perseguição (ou não)

Calei a boca
Respeitei a senhora
Cobri minha cabeça
Recebi em silêncio a chacota
Respirei fundo
Segurei a raiva
Humilhação por segundo
Rodeada por falsos atalaias
A senhora nada fez
Sorriu diante da desgraça
Participou do circo
Ajudou a palhaçada
Te pedi, minha mãe,
Para poupar-me do pior
Disse-me que não era mais tua filha
E o estardalhaço começou
Me bateu na cara com a cinta
Gritou meu nome e se ofendeu
Não tive culpa, sou menina
Mas você não se arrependeu
Estava caída no chão de casa
Sangrando e cansada
Papai e titia apareceram
Olhando "a menina que engravidou"
Apontaram e começaram a rir
Foi assim que tudo começou
É por isso que tenho que ir

20.11.08

_solteiro

Nada é melhor
Que sentar-se no botequim
A morena de um lado
A loira de outro
A cerveja no copo
e o dinheiro no bolso
Cantando e dançando
A noite vai passando
O sorriso no rosto
e o garçom de encosto
Dizem ainda
As más línguas e afins
Que vida boêmia
É vida perdida
Ilusão, meretriz
Esquecem da vida
Do marido reclamão, infeliz
Morreu de desgosto
Preso na cruz
Aguentando as velhas jururus

18.11.08

_sou don juan, sou romeu

Sou Don Juan, sou Romeu
aqui nessa cidade
não tem ninguém
mais bem quisto do que eu
O que não falta
pra mim é fã
Pudera...
Ninguém resiste à minha pinta de galã
Meu nome, poucos sabem qual é
não uso máscara
não sou mané, não tem outro jeito
Vou ter que me disfarçar
pra te roubar um outro beijo

Meu amigo
deu um jeito em tudo
e me arranjou
quero ver essa menina
vou paquerar noite e dia
essa que me desprezou
Mas ele me disse
que ela é mais uma
de tantas outras meninas
muito mais bonitas
que a cidade lhe apresentou

Mostra pra mim
alguma mais bonita que Maria
com aquela cintura fininha
sem marido, sozinha
Soluçou...
tentou pensar em algo
não lembrou de nenhuma
ficou no que ficou
Vai!
Fica na sua
me deixa na rua
não sou homem de qualquer uma
quero mulher de primeira
não quero qualquer vagabunda

Sou Don Juan, sou Romeu
aqui nessa cidade
não tem ninguém
mais bem quisto do que eu
O que não falta
pra mim é fã
Pudera...
Ninguém resiste à minha pinta de galã
Meu nome poucos sabem qual é
não uso máscara
não sou mané, não tem outro jeito
Vou ter que me disfarçar
pra te roubar um outro beijo

17.11.08

_espirro do autoconhecimento

atchin!

saúde!

obrigado!

de nada!

quem é você?

não sei, e você?

eu sou eu

pois eu também sou eu

se você é eu, quem sou eu?

eu sou eu!

atchin!

saúde!

obrigado!

_hoje é domingo

da janela da sala eu vejo
o andar do mundo devagar
um casal enganchado num beijo
o dia vai demorar a passar

nas ruas os rastros dos pés
dos boêmios aventureiros
o relógio ainda marca nove e dez
nem se escutam os berreiros
dos bebês deixados para trás
por mães jovens e confusas
o silêncio desconhecido no Brás
um jardineiro sem família podando as mudas
até tirei a TV da tomada
evitando o risco dela ligar
a mídia de domingo é amarga
ela ainda vai me matar

passa a brisa do vento
os passos indo e vindo
só não passa o tempo
hoje é domingo

hoje é
domingo

15.11.08

_em uma sala de aula qualquer

Ele estava bem alí sentado, olhando a professora riscando a lousa. A classe estava em silêncio, todos prestavam atenção e anotavam as palavras rabiscadas. Ele ergue o braço e aguarda a atenção da professora.

- Pode falar, Pedro. O que quer?

- Professora, eu estou confuso.

- Diga-me. Qual o motivo de sua confusão?

- Não sei bem se deveria perguntar tal coisa.

- Então porque ergueu sua mão em primeiro lugar?

- Eu pensei em arriscar e... Talvez seja melhor calar-me.

- Não seja bobo, garoto. Do que tem medo?

- Posso até falar, mas temos que fazer um acordo.

- Que tipo de acordo, Pedro?

- A senhora não pode ficar nervosa em nenhum momento. Não pode gritar, nem...

- Porque não fala de uma vez, Pedro?

- Tá certo. Eu queria entender porque devemos nos sentar nos mesmos lugares todos os dias e não nos comunicarmos uns com os outros. Somos expostos a provas contendo tudo aquilo que você nos ensina, mas como podemos saber se o que ensina é a verdade e se a sua verdade está certa? A única fonte de conhecimento que nos é dada é uma professora que diz ter todo o conhecimento e seus livros. E mesmo que você fale a verdade, tudo que aprendemos é a competirmos uns contra os outros a todo momento. Seja na sala de aula ou nas quadras de educação física. Estamos sempre sendo forçados a nutrir ódio e rivalidade que a escola força goela abaixo, em nós. Não vejo como uma instituição como essa, que deveria ser o exemplo para todos os alunos e até para a sociedade, possa ensinar algo de verdade para nós. Somos criados com informações manipuladas por um conselho de professores, coordenadores e reitores. Talvez tudo isso não passe de um erro.

Todos boquiabertos com as palavras dele. As veias da professora saltam e pulsam, seu rosto vermelho e a respiração ofegante.

- Cale-se, Pedro. Sente-se no seu lugar e faça um favor para toda a sala... Fique calado! Está bem?

Ele se assusta e nada pode fazer, apenas obedecer. Ele se senta. A aula continua.

- Bom, agora que a sala está em silêncio... Vamos continuar com a aula sobre as revoluções através da história. Certo classe?

Muitos Pedros nasceram, foram matriculados, tiraram seus diplomas e morreram como homens comuns e desconhecidos. Todos estudaram com professores que respondiam com perguntas e sempre aumentavam suas duvidas. Assim como eu e você.

_um salve aos boêmios

Um salve aos boêmios
Meus amigos guerreiros
Saudades daquele tempo
Cada história pra contar,vai vendo
De dia o perfume de cereja
A noite o gosto da cerveja
A fumaça trançando no ar
E todos sambando e aprendendo a amar

Certa vez no boteco do seu João
Entrei sem remorso, pura emoção
Planejando uma farra com os parceiros
Mais uma noite de devaneios

Umas doses na cabeça
Debruçado na mesa
Olhando de canto a morena
Pensando um monte de besteira

Cheguei junto sem apertar o passo
Logo lhe mandei um abraço
E chamei para dançar.
Ela que era muito pra mim
Mediu-me e disse assim:
Você não passa de um coitado
Homem velho e largado
Não sai do bar nem por mandato
O que eu quero é homem de verdade
Pra casar e ter amizade
Sabe como é

Morena, me perdoe por dizer
Errei mesmo em vir lhe ver
Mas a vida é assim
Achei que rolaria
Ganharia na loteria
Mas nem sempre é assim
Como bem me disse é mulher honesta
Futura colecionadora de chifre na testa
Ainda bem que me disse quem é
Já pensou se eu me engano e viro um mané?

Um salve aos boêmios
Meus amigos guerreiros
Saudades daquele tempo
Cada história pra contar,vai vendo
De dia o perfume de cereja
A noite o gosto da cerveja
A fumaça trançando no ar
E todos sambando e aprendendo a amar

14.11.08

_patrão picareta

Lá vem ele de novo
Cavalheiro e pomposo
Olhando pro povo
Rogando seu mau-agouro
Sobre os pobres malandros
Que trabalham para ele

De terno e gravata
Enforcando a garganta
Machucando os pés
Num sapato apertado
Vivendo, correndo... e reclamando

Acorda malandro!
Gritou o patrão
Assustou o calango
Quase o matou do coração

Pega leve doutor
Tava só tirando um cochilo
Meu trabalho tá ali prontinho
Esperando o senhor averiguar
Mas eu lhe digo
Não me grite no ouvido
Sou funcionário, não sou teu amigo
Tome cuidado comigo
Ou o pau vai comê

Ohhhh, patrão picareta
Merece um tapa na orelha
Bem dado, em duas prestações

Ohhhh, patrão picareta
Quero meu bônus e as férias
Ou, de novo, pego a tua velha


[ atenção! qualquer relação com meu patrão real é pura especulação da oposição ]

13.11.08

_olha o moço

Olha ali
O moço enrolando na praça
Vai cair na desgraça
Logo que anoitecer

Olha ali
O moço perdido na área
Mostrando na raça
O que nasceu pra fazer

A criançada corre louca
Zombando, brincando e gritando
O doutor tá no fundo do poço
Olha o moço! Olha o moço!

Passa bonde
Passa menina
E o moço se mantém... na linha

Passa tempo
Passa polícia
E o moço bebe... mais ainda

Ele não desanima
Não larga a sua caninha
Sem se preocupar
Que ainda são seis da matina

Olha ali
O moço enrolando na praça
Vai cair na desgraça
Logo que anoitecer

Olha ali
O moço perdido na área
Mostrando na raça
O que nasceu pra fazer

A criançada corre louca
Zombando, brincando e gritando
O doutor tá no fundo do poço
Olha o moço! Olha o moço!



[ inacreditáveis foram as boas vindas ao meu samba, por isso repito a dose! Pai, essa é pra você! ]

_parceria na brincadeira com as palavras


[ Em homenagem ao parceiro de trabalho e literatura, Caio Mario Britto ]

_lembrete a Dona Márcia

A Márcia é daquelas meninas como outra qualquer
Se diz apaixonada por receitas
Grande degustadora de bons restaurantes
Cobra criada no meio de elefantes

Ela é graduada em Harvard
E é fluente em francês
Sonha um dia em ser uma grande chef
Come um bolo, duas tortas e cindo sanduíches... de uma só vez

Tem 27 anos tá curtindo a vida
Saindo toda noite sem dar a mínima
Comendo e comendo tudo a sua frente
Ninguém agüenta essa menina

Seu signo astrológico é leão
Seu ano do zodíaco é o galo
Eu posso estar errado, mas não sei não
Me parece outro tipo de galináceo

Márcia, minha amiga, da próxima vez
Que quiser opinar na vida dos outros
Aprenda pelo menos a escrever e a ler
Ninguém gosta de levar desaforos

12.11.08

_samba em (des)homenagem ao amor

Eu tenho um bom amigo
Que me disse certa vez
Vamos, rapaz, pense comigo
O amor, quem foi que fez?

É um sentimento inventado
Dos mais novos que eu já vi
Pobre do coitado
Que cair nessa rede aí

Meu amigo, estou bem aqui
Ouvindo tudo que você me diz
Pode ser verdade, pode ser enganação
Mas de todas as coisas, essa é a maior invenção

Desde o século XVIII ele está por aí
Sustentado por alguns romancistas que nunca conheci
Você me diz ainda que é coisa de burguês
Se for assim eu quero ser o rei dos reis

Eu tenho um bom amigo
Que me disse certa vez
Vamos, rapaz, pense comigo
O amor, quem foi que fez?

É um sentimento inventado
Dos mais novos que eu já vi
Pobre do coitado
Que cair nessa rede aí



[dedicado ao Igor, um bom amigo que inspirou, com nossos diálogos, esse samba]

_o peso do nove (9)

Desenvolver a compaixão
E ser generoso em meus atos
Doar-me sem esperar compensação
Feliz pela felicidade dos meus amados

Apresentar caminhos
Expandindo os pensamentos
Quebrando as barreiras, as paredes
Ser conselheiro dos conselheiros

Tolerar o outro sendo sensível
Amar o próximo sendo plausível
Tornar-se fonte de inspiração
No caminho da vida alheia

Uma ponta de egoísmo
Me é negada sem pestanejar
O objetivo do meu ser
É, ao meu redor, alguém querer ser

O peso não é a solidão
Ou o desapego a tudo e todos
É, dos meu amigos, a obscura desilusão
Se, talvez, não cumprir o meu dever

_fé é

Acredite ou não
Todos acreditam em algo superior
Pode parecer balela
Mas todos querem algo posterior

Acredite ou não
Todos querem sentir um amor além
Pode parecer piegas
Mas todos querem dizer amém

Acredite ou não
Todos querem acreditar
Pode parecer forçado
Mas todos querem idolatrar

Acredite ou não
Todos preferem manter segredos
Pode parecer óbvio
Mas todos querem abrir mão dos medos

A fé é isso
Não o que eu disse sobre todos
Pois ninguém sabe a verdade
Fé é acreditar ou não

11.11.08

_se todos se importassem

Ninguém choraria
Se todos se importassem
Ninguém mentiria
Se todos amassem

Mesmo assim estou vivo
Caminhando pelo mundo
Sob o julgo do homem
Sobre o fogo do destino

Observando o que me faz chorar
A fome, a peste, a guerra
A morte seria o quarto cavaleiro
Mas talvez ela seja a única saída

Penso se pensam como eu
Penso se enxergam como eu
Peço que pensem como eu
Peço que enxerguem como eu

Se eu sofro, você sofre
Se alguém morre, eu morro
Quando a lágrima cai de um rosto
Meu coração está morto

Quero acordar e ver o sorriso
O barulho de crianças rindo
A alegria de viver
O amor de todos vocês

Se meus sonhos morressem
Você se importaria?
Se todos se importassem
Ninguém morreria

10.11.08

_restos de um poema recitado

Não me lembro bem de como era
Nem ao menos sei como o criei
Foi em mais uma noite daquelas
Enfim, esquecido eu fiquei

Busco nas regiões mais profundas de mim
As luzes me atrapalham de ver
E a música não me deixa escutar
Não há maneiras de adivinhar

Lembro-me de seu sorriso e bochechas rosadas
Envergonhada em meio às palavras que recitei
Palavras que não me vêm à mente
Embriagues de minha parte, obviamente

A memória em nada me ajuda
Cadê a lembrança? - Deus me acuda!
Só me lembro que tinha algo sobre desejo
E o pedido de um beijo

9.11.08

_momentum

A escuridão é como a alma humana
Ambígua e indecisa
Uma hora ela amedronta
Outra nos dá o que agente precisa

O conforto de um abraço
O calor de um olhar
Sem saber no que vai dar
Sem nem, ao menos, se importar

Pouco interessa o depois
O que quero é sentir cada segundo
O inesperado - uma sensação familiar
Pobre de mim, pobre vagabundo

A sensação de algo diferente
O estranho torna-se o completo
O medo vira anseio
O desejo vira um beijo

Algo me diz que fiz certo
Há quem ache o contrario
Vai entender esse mundo
Foi muito certo fazer o errado

O tempo corre muito rápido
E não temos o luxo de degustar
No paradisíaco oásis ou no deserto árido
O melhor é sentar e aproveitar

Não estou reclamando, nem um pouco
Entendam que isto não relata um lamento
Alegria de pobre dura pouco
Mas vale a pena o momento

6.11.08

_ansioso?

O coração apertado
A cabeça doendo
O suor correndo frio
O corpo se remoendo

Respire fundo
Respire...
A indecisão permanece
A insegurança ainda cresce

Olhe para a esquerda
Um mundo de ilusões
Olhe para a direita
Um universo de indignações

Eu quero ter,
Mas não posso tentar
Não quero perder!
Será que quero ganhar?

Ninguém pra dividir o medo...
A aflição é toda minha
O medo de seguir em frente...
Ato acovardado de quem já viveu um dia

5.11.08

_a boca fala do que o coração está cheio

Se eu pudesse deixar de lado toda a consciência
E esquecesse todas as conseqüências...
Estaria sobre o seu corpo sem vida
Preparando-me para viver a minha
Sentiria o cheiro da sua carne apodrecida
Gritaria com furor e muita alegria
Com o teu sangue eu me banharia
E com os restos da sua pele eu me cobriria


Tua cabeça seria meu troféu
Sádico, estranho, sujo e cruel
Agora sou o monstro que você tanto queria
Destruo a tua alma, porque roubastes a minha
Foram tantos os anos tentando entender
Sofrendo, agüentando, tentando compreender
Não adianta chorar, nem pense em rezar
Deus e o diabo, hoje, vão se calar
Jurei que a tua alma, eu, iria tirar
Nem o céu, nem o inferno, vão te receber
Sou eu quem vai fazer você sofrer


Como seria bom se eu tivesse lhe matado
Deixar teu coração exposto, numa estaca, fincado
Talvez me julguem mal ou não me entendam
Mas a minha vida não é como pensam
Viver debaixo do gatilho de um louco
Ouvir a sua mãe chorar, você ficando rouco
Agüentar a humilhação, viver no desespero
Tentar ter respeito na base do medo


Não precisa entender nem compartilhar
Das idéias de um pobre coitado pronto para matar
Só não entre em meu caminho
Pois eu escolho o meu destino... sozinho

4.11.08

_ódio, a definição

O ódio é a base de tudo
É o motivo da mudança
A razão do oriundo

A lágrima do traído
O suspiro do desamparado
A diferença entre querubim e anjo-caído

O olhar de revolta
O punho do sonhador
A destruição de tudo a sua volta

O grito do inocente
O choro da mãe doente
A contra-reação a esse mundo decadente

O beijo de vingança de um amigo
A adrenalina do sexo
A tristeza do avanço do inimigo

O ódio constrói a partir da destruição
A saudade do que nunca se teve, ilusão e nostalgia
Entorpece, vicia, pura sensação

O ódio não surge a puro esmo
Ele é parente do amor, primo do desejo
O nome é outro, mas o sobrenome é o mesmo

3.11.08

_prosa da vida, poesia do sofrer

A sinceridade de um olhar
O desfecho de um soco
Como prever o inevitável?
Quem pode parar?
Um cão levado ao seu extremo
Motivos não lhe faltam para rosnar
Ouriçam os pelos
Enrijecem os músculos
Quem irá julgá-lo pelos seus feitos?
Assim, também, reage um apaixonado
Que anseia pelo beijo do cônjuge amado
Com o coração cheio e a cabeça oca
Olho por olho, boca por boca

Sou um pecador e provoco o horror
Não posso esconder ou negar meu amor
Assim vive uma carcaça cheia de dor

Algum dia alguém a de entender
O desejo de sucumbir, libertar-me do sofrer
O consumo da mente, destruição do corpo
Esquecido e rejeitado, dado como morto
Céu ou inferno? E precisa responder?
Eu renuncio aos dois, sem pensar
Já tenho muitos problemas para enfrentar
Não quero outra vida após eu morrer
Deus me deu a vida e o diabo a minha sorte
Falta-me uma alma e a habilidade de sonhar
Diferente de você, eu não sou tão forte
Tenha piedade e me ensine a amar

Se dentro de minha cova eu não estiver
É porque estou a lhe aguardar
Uma vez fui feliz
Uma vez eu soube sorrir
Uma vez e eu ainda não vivi



[dedicado a alguém que tem http://algo-a-declarar.blogspot.com/ ]