31.3.10

_ não vi, mas verei


Sentado e largado no fundo da sala
eu reclamava em silêncio
a ausência de massa cefálica do professor
que não escondia de ninguém o seu ego
o seu ego superior

Eu cuspi em mais escadas que lembro
pois andei em mais lugares que sei
vivenciei experiências sem testes
injetei tudo o que me negavam
e repudiei ajudas como fezes

Sem nunca pedir, recebi
Sem nunca viver, vivi
Em tudo aquilo que quis
por meios que nunca vi

Resolvi e me formei sem graduação
caminhei sem rumos para nunca chegar
mas cheguei em mais mares que você
e ninguém nunca vai imaginar o amor
que tantas vezes me fez parar no inferno
para contar as gotas de suor no calor

E talvez, só talvez,
talvez, e talvez
Eu venha enxergar o mundo
pela primeira vez.

29.3.10

_ o alienado sagaz

talvez a resistência seja o erro
da resposta que se perguntou
um tanto quanto previsível
se foi o juiz quem falou

pois tudo é por lei
as quais burlam nossos direitos
como humanos, como existência
sem nenhuma resistência

levantar é duro demais
para cobaias desencanadas
tipo uma humilhação suicida
bem exposta nas entrelinhas

então seguimos o comprovado
mesmo que a nós esteja errado
afinal somos todos tratados
como Jorge, mas sem 'amado'

enfim, a vida nos pertence
mas não possui valor fiscal
venda sua alma para o diabo
e veja se vai até o final.

21.3.10

_ (re)lutar por algo

é como se eu fugisse de uma situação inevitável
que tão inocentemente, em toda minha maliciosidade,
creio, sem portar nenhuma limitação da crença,
poder escapar sem nenhum arranhão.

muito mais enraizado do que eu poderia acreditar,
o sentimento inflama o meu coração, como se não fosse só uma metáfora.
quero sentar e não pensar nos milhares que nunca conheci,
mas sofrem o que um dia eu possa vir a sofrer.

minha conduta chega a ser patética, como se assumindo os pecados
algo além pudesse me abençoar com algum tipo de perdão.
mas a resistência à negação que me surge de vez em vez trás de volta a razão,
pois do tempo que pouco me resta, devo desejar ao próximo, ao menos, cinco minutos a mais de vida e prazer.

18.3.10

_ o amor enxerga muito bem

Não sei se já não disse,
pois dizer as vezes é olhar;

Mas, de tanto tempo que não a vejo,
temo por não ter dito, ou visto,
a fundo em seus olhos,
observando o reflexo de mim mesmo,
o que sinto por você.

Mas se pudesse olhar-te agora,
veria seus olhos olhando para mim.

Me surpreendo, mas nem tanto,
afinal eu também estava te olhando.

E sempre soube que aquela sensação estranha,
como se a nuca queimasse de tanta aflição,
era você me olhando escondida,
pois era o que eu fazia enquanto você não me via.