28.4.10

_ a mentira (para escapar da realidade)

quando fugi de casa
tomei a vida de outro para mim
esse outro era minha mãe
e quase a matei no fim

era rebelde, mas com causas que,
por mais que fossem próprias,
valiam e incentivavam: "extravasa!"
mas a porta da rua era serventia da casa

larguei tudo sem pensar
naquilo que não teria mais
me desapeguei antes de começar
a jornada de garoto a rapaz

conheci muitos garotos e ainda mais meninas
acreditei estar renovado, feliz da vida
segurando um pacote de dez esfihas
que eu dividia em sete pra comer por dia

me meti em tudo que é buraco
quase fui ver o sol nascer quadrado
sempre com cara de mau pra tudo
menos para o meu novo futuro

e de tudo me resta o final da história
voltei para casa, mas logo sai de novo
dessa vez pagando aluguel e com dinheiro no bolso
mas toda vez eu me lembro que...

quando fugi de casa
tomei a vida de outro para mim
esse outro era minha mãe
e quase a matei no fim

24.4.10

_ dor com a qual tenho que conviver

tudo que eu queria era uma casinha pra guardar
meus sonhos e os seus, seus erros e os meus
mas estamos muito longe, nem tão equidistantes
e ainda vai piorar, a dor não vai passar

e os dias são mais longos e tediosos,
pois você não está aqui, aonde devia estar
mesmo que eu entenda é a cabeça quem não deixa,
descansar de você, de 'você e eu'

só que essa é uma dor com a qual tenho que conviver
sua ausência me mata, sua falta me amarga
só que essa é uma fase com a qual tenho que aprender

talvez a leitura me ajude, se os livros tomassem
alguma atitude em relação a nós, para mim e para vós
quanto mais remédio eu peço mais eu tenho é tédio
de não estar ao seu lado, sempre encurralado, solitário

só que essa é uma dor com a qual tenho que conviver
sua ausência me mata, sua falta me amarga
só que essa é uma fase com a qual tenho que aprender

13.4.10

_ Reclamação

Como tem gente que gosta de reclamar. Não me entenda mal, pois acredito na reclamação como a atitude precursora das mudanças, do início do pensamento livre. Mas tem gente que gosta de reclamar sem motivo, razão ou circunstância. Hora passa e sempre tem um sujeito no pé do seu ouvido reclamando sem parar, informando-lhe de como a vida dele é dura e o quanto ele precisou - e ainda precisa - lutar para chegar onde chegou. A minha inocência filosófica começa neste ponto, afinal quem luta demais para chegar em algum lugar onde tudo que consegue tirar de proveito é a reclamação, não deve ter dado tanto duro assim. Mas somos todos seres de bom coração e abertos a novas experiências que possam testar a nossa paciência tão falha, de fato. A língua de um reclamão é áspera e longa. Nem sempre alongada de dentro para fora, mas definitivamente a metragem interna da mesma deve ser grande o suficiente para que a língua nasça bem próximo do cólon, explicando assim a sua aspereza - e odor. Os reclamões agem de forma muito parecida, por mais que suas vidas e histórias sejam extremamente diferentes. A principal, sem dúvida, é que quanto mais eles falam, mais eles tem pra falar. Outra é a total certeza das coisas que fala, como se possuísse, de alguma forma, um conhecimento que vai além da naturalidade de uma criança, ou da longevidade cultural de um senhor de idade. Apenas a vontade de contar detalhes pessoais e desnecessários para qualquer ser alheio a sua própria vida já é, nitidamente, um meio de chamar a atenção para si. E é seguindo esse pensamento - reclamão de minha parte - que devemos entender as pessoas que reclamam demais em dois grupos extremamente separados: Aqueles que querem melhorias e aqueles que querem melhorar.

1.4.10

_ desconstruindo o presente, reformulando o passado e outros contos na mesma poesia

Quem tem que acabar
nunca vai começar
algo que possa vir
a terminar assim

encanaram no poder
mas não sabem porque
falam tanto na TV
prometeram só por prometer

Caso com caos só pra poder causar
o mínimo de medo pra se modificar
metamorfose de uma metáfora
que nos dá razão de chorar
por um novo amanhecer
que há de desabrochar!

o melhor é relembrar
tudo que o passado não terminou
pela ânsia que sobrou
de mudar, de recomeçar

"É pau, é pedra, é o fim(...)"
do início.