26.2.09

_um monstro e seus sentimentos

Passo metade dos meus dias refletindo sobre o impensável e entendendo que todos os meus passos são resultados das conseqüências de meus atos ilícitos e aceitáveis.

-
Você deve ter ambição! Ser alguém! Isso é o sonho de um homem de verdade!

O desejo alheio sempre é imposto sobre os outros como o sentido da verdade e da absoluta certeza de como ser feliz de uma forma coletiva. Pensamentos que funcionam com uma base religiosa que cria todo o sentido de que o melhor para todos é passar a eternidade agradando um deus que os criou e os fez sofrer por milênios.

Mas a questão é que eu sempre caminhei pelo errado e para o errado. Subjugado pelas atitudes e ações de um dito criminoso. Ateu, revolucionário, anarquista, drogado, boêmio e filósofo. Sempre sem ambição e sendo naturalmente o projeto de todo o desprezo humano. Nunca me vi merecendo o paraíso ou o perdão de mortais e imortais. Tudo sempre me pareceu errado na maneira certa que está.

- Você é louco! Pára de querer mudar o mundo!

Acredito que todos tem em seus ideais ou em suas ideologias, algo em torno de um terço de razão. Quando um zagueiro percorre todo um campo para tentar fazer um gol, mas é interceptado (carrinho) e o time rival faz a virada ser o grito da torcida, quem está errado? Esse é um dos maiores motivos por eu não ser compreendido. Como alguém pode aceitar todos os lados e todos os opostos sem se importar ou se magoar?

- É minha fé, minha crença, meu time, meu partido!

E qual o problema de eu não crer no que os outros crêem? Pra mim, consumir a sua própria existência com coisas tão pequenas e absurdas é como negar o próprio dom que é a vida. Sejam o que quiserem ser, mas não tentem me fazer igual a vocês! Eu sou assim, errado e imperfeito. Eu quero me manter vivendo pela insanidade da minha razão.

Nem sempre todos é tudo. Assim como nem todos os dedos da mão são tortos por causa de um mindinho quebrado, o julgo alheio sobre a minha maneira de ser, de repente, faz sentido.

Confesso que errei e ainda erro - talvez com mais freqüência que antes. Por isso, ainda me surpreendo quando a vida me presenteia com os mais belos regalos e os mais profundos suspiros de paz e sossego.

- Sendo assim, o que você tem para oferecer aos outros?

Tenho a mim mesmo e é tudo que eu posso dar, pois isso é tudo que eu quero de alguém. Dinheiro, fama, poder e ilusões, não fazem parte das minhas metas como ser vivente. Vivo pelos sentimentos da dor, do prazer, da saudade e do amor.

Sempre falhei com os outros, pois os outros exigem de mim aquilo que eu não posso ser, aquilo que eu não sou. Machuco e grito alto demais para que não queiram me ouvir novamente.

Porém, com você é diferente. Afasto você, sim, mas não a quero longe de mim. É engraçado saber que você sabe disso, estranho é entender que você compreende isso. Na verdade, eu nunca te afastei.

Todos os dias que me deito na cama demoro para cair no sono. Pensamentos não param de correr pelos quatro cantos do meu cérebro. Em especial, uma pergunta afirmativa:

- Quem diria que um monstro como eu, ganharia algo tão especial como você?

19.2.09

_poema aos mortos (ela)

se eu pudesse apagar um momento de dor
eu jogaria tudo fora, até mesmo o nosso amor
se eu pudesse ser deus, sabe o que eu faria?
nadaria pelo seu sangue e esse câncer eu mataria

ás vezes, quando estou sozinho, eu ainda a sinto
respirando no meu pescoço, você ainda está comigo
onde estará? você sente o gosto do meu lamento?
aguente o consumo ou use meu corpo de alimento

você é eterna, em meu coração nunca morrerá
você é eterna, ainda penso onde é que estará?
pedi para morrer primeiro, mas você insistiu no erro
destruiu nosso romance do pior jeito, no seu enterro

_mate-me, por favor

abracei a escuridão que me rodeia
transformei-a em minha própria essência
por não compreender, fiz de meu amor um deus
seguindo cegamente a todas suas ordens
iniciei uma caminhada para o precipício
larguei tudo que tinha em queda livre
matei todos os meus outros sentimentos
e desesperei-me com meus pesadelos
tornei-me o senhorio de um "eu" decadente
a perda eterna e desenfreada da alegria
fez com que o mundo repelisse minha existência
isolei-me na parte mais obscura de meus desejos
cultivei flores para enfeitar o meu funeral
são rosas, que trazem o contraste em questão
cheiram a morte, me lembram da dor
buscando a paz eterna, me machuco ainda mais
todas lembranças de sorrisos me incomodam
e transformam-se em lágrimas nos meus olhos
estas, por sua vez, trazem vida para o mundo
e me fazem sofrer e chorar ainda mais
entendam que eu não quero mais tentar!
entrego minha essência nas mãos do mundo
façam como quiserem, façam o que quiserem
não sou mais eu o mediador do meu destino
venham contra mim! destruam-me!
tenham a decência de fazer aquilo que eu não consigo
ouçam a minha voz, o meu clamor!
só espero um dia poder dar o último suspiro
sentir todo respingo de vida escorrer para fora de mim
e vivenciar a minha não-existência em paz, sem dor,
sem mim...

16.2.09

_era tudo pra (re)conhecer

e eu que achava que tudo sabia
e conhecia cantoria de sabiá
fui descobrir que me enganaria
era tudo canto de arapapá...

fui viajar sem mala nas costas
só pra ver no que ia dar
metido em roubadas e apostas
era tudo pra ver como era o mar.

não sabia que a areia era tão dura
tanto quanto é a minha rua
tô todo torto com essa aventura
era tudo só pra olhar pra lua.

acordei no berro do guarda moço
cassetete não dá direito a cinco minutos
me vi caindo no fundo do poço
era tudo pra andar sobre os viadutos.

esmolei no botequim uma ou outra loura
pra tirar a secura da garganta
tomei na cabeça com o cabo da vassoura
era tudo pra dar "uma" pra santa.

volto pra casa muito arrependido
de ter fugido da minha obrigação
seria mais fácil se eu tivesse perdido
era tudo pra machucar seu/meu coração.

mas todo final de conto é feliz
e na volta é o seu nome que eu chamo
sem você eu vi como a vida é infeliz
(re)conheci a mulher que eu amo (bem aqui).

12.2.09

_para uso dos correios

cadê aquele moço que morava por aqui?
mudou-se novamente para d'algo tentar fugir
largou pra trás esta carta. (eu devo abrir?)

realmente, ele não era ninguém para mim!
só um vizinho de caráter desconhecido, enfim
o melhor é deixar e largar isso tudo assim!

talvez ele sinta certa falta de ler. (é normal ter fraquezas)
pode ser que o remetente seja escritor de grandes proezas
devo ser sado, gosto de me entreter com essas incertezas

devolvo a carta ao correio e acabo com isso tudo
(e se ele não se apresentar?) - droga! como sou abelhudo
me veria feliz e livre de confusões se fosse surdo-mudo

chega! está decidido de vez! não vou mais me envolver
nem que eu morr... (mas e se o rapaz vier a falecer?)
não era tão velho, acho que não há porque me aborrecer

meu histórico médico me nega as emoções mais fortes
vou abrir! afinal, já participei de tantos outros calotes
abri! é uma foto minha entre tantos outros recortes

o menino é do tipo que gosta de outro menino?!
(pode ser verdade. me parecia muito limpo e franzino)
seja como for, agora ele segue o seu próprio caminho

me deixou aqui para trás com a dica de uma paixão
não sou o seu tipo, mas admiro toda essa armação
não sabia que podia se sentir amor com essa sensação

9.2.09

_silêncio do dizer (deusa Muda)

beleza indescritível para meros mortais
mas o que tinha de divino, tinha de prazer no falar
especular fatos e trair deuses, combinações fatais
segredos obscuros revelados, sua língua irão decepar

a aparência não mais conduzia o conteúdo
sem proferir palavras ou emanar sinais de vida
poderia alguém apaixonar-se por um ser mudo
deixada às portas do inferno com a alma ferida?

o destino é cruel, mas é também brincalhão
decepou seu órgão amado e entregou-lhe um coração
seu executor era também poeta, vivia na ilusão
fora, com este mensageiro, descobrir o senso de paixão

o mundo girou, tempo passou, a terra tremeu
escolheram unir-se, o que mais haveria de se fazer?
para eles tudo se manteve, nada os abateu
uns viraram um, apenas pelo silêncio do dizer

5.2.09

_ponto final para continuar sem um fim

deixou tudo em nome da possessão
consumida pela sua própria obsessão
não deixou que eu me curasse da dor
me abraçava dizendo que era amor

sentia-se satisfeita, bastava, era só
destratava meus sentimentos, assim, sem dó
jogou minhas espectativas contra a parede
"não sou eu, é você que ninguém entende"

suas palavras, tão ásperas, tão malditas
mexiam em minhas atitudes, ficavam aflitas
sua risada amarga debochava da minha opinião
sempre foi mais forte por saber a verdade e eu não

tesão em rasgar a minha pele inteira
me comprou com um monte de asneira
apenas para perfurar o meu coração
nunca entendi qual era sua motivação

eu passava o dia inteiro a te beijar
agia ansioso até a hora de te amar
larguei minha vida para salvar a sua
como prêmio um não e o olho da rua

passei o tempo todo sofrendo ao seu lado
sei que merecia mais, merecia ser amado
contudo, está tudo muito melhor assim
precisava de um ponto final para não ser meu fim.

1.2.09

_desistam de mim

desista de mim de uma vez
sou um caso perdido e ninguém vê isso
nunca amei ninguém e espero que todos sofram
tudo o que eu tenho dentro de mim é ódio
saiam da minha vida e me deixem em paz
eu não irei mudar por causa de milagres
marque na sua cabeça que eu não quero seu bem
tenho meus motivos para não andar armado
um deles é você
a raiva não me consome, me completa e conforta
aconchego-me na minha própria escuridão
estou cansado de alertar a todos sobre isso
desistam antes que seja tarde demais
eu vou virar as costas para todos que me amarem
atacarei pelas costas, sem piedade
sou o pior tipo que já encontraram por ai
detesto seus discursos amigáveis e conselhos idiotas
não quero melhorar, não quero ser alguém
a podridão faz parte do meu ser, é o que eu sou
olhe dentro dos meus olhos e enxergue meu coração
meus sonhos de destruição
existo para trazer-lhe sofrimento eterno

_(des)encontrando minha alma

minha alma se refugia em alto mar
para que suas lágrimas caiam desapercebidas
sem poder ver através da espessa camada de neblina
ela se perde no caminho até sua decadente morada
buscando por um horizonte, um caminho a seguir
seu esforço começa a pesar sobre seu senso de esperança
mergulhada em meio as águas salgadas do oceano
não se sabe quantas são lágrimas suas ou de outrem
existência infinita confinada em uma ampulheta finalística
as ondas se acalmam por um instante, algo novo aconteceu
o eterno azul sente o sabor de ferrugem, concentrado, grosso
sangue? uma alma está a sangrar em pleno alto mar
perversidade contra a vida, afronta ao próprio deus
eu sinto a dor dela, sinto a abertura d'um corte profundo
sou eu!? sou eu quem está sangrando!
mas onde está a minha alma? eu a vi sofrendo sobre aquelas águas
não adianta, minhas vestimentas e meus pés estão ensopados
sou eu quem sofre durante todos esses anos
eu que preenchi o vazio dentro desta pocilga inundada
desencontrei a minha alma, mas encontrei a minha dor
lutar não é alternativa, muito menos uma opção
deixo o ar sair sem tentar lutar, faltam-me forças e vontade
deixei-me levar pelo comodismo de uma imaginação fértil
não sou descarado para tentar fazer de tudo um grande caso, não mais
só me arrependo por uma coisa, um algo que irá comigo para a cova:
ter causado um aborto espontâneo do fruto d'um conto de fadas.