31.1.09

_conformismo ou resistência?

a era do conformismo tem que acabar
as pessoas tem que entender que é hora de acordar
fazer tremer as bases de uma sociedade cruel
eliminar o sistema de uma vez - deus não é fiel

chega de entender as coisas como elas são
quebre as barreiras da politica e da religião
eles querem que você baseie sua vida em egoísmo
separar o povo e instituir um novo meio de fascismo

tire a venda dos teus olhos e diga não a opressão
não te cale por medo, não baixe a cabeça por respeito
passeatas pacíficas não vão mais surtir efeito
o Estado treme perante a sua indignação!

você pode escolher entre a ética popular e a ciência
você pode escolher, conformismo ou resistência?

matam seus filhos, matam a seus pais
destroem os teus sonhos, largam-nos sem oportunidade
não parem de lutar! gritem mais!
vamos buscar o que é de nosso direito... nossa liberdade!

29.1.09

_eu no caminho de outro

Muitas pessoas buscam por elas mesmas em retiros, viagens, buscas incertas pelo mundo a fora. Isso não é uma regra a ser seguida, aliás podemos nos inspirar com o simples fato de existirem pessoas que enfrentam tormentas psicológicas e naturais para encontrarem um sentido na sua própria existência. E foi exatamente o que aconteceu comigo, hoje, ás 03:20 da madrugada. Por uma dica cultural de um amigo, que está viajando a algum tempo pela Europa, sobre um rapaz chamado Chris McCandless e sua incrível aventura para viver na natureza, sem recurso algum, no Alasca, eu acabei indo mais a fundo para conhecer um pouco mais dessa história e descobrir quem era esse rapaz, mas para minha surpresa eu acabei conhecendo um pouco mais de mim mesmo.

O filme inteiro mostra a determinação e o desapego aos ditos valores morais, que a sociedade coloca como peso sobre nossas cabeças, no qual o garoto acha a determinação suficiente para continuar sempre em frente. Ele deixa para trás seus pais perturbados e sua irmã, com quem ele repartia um grande apego familiar. Ao longo do caminho, Chris conhece figuras que eu podia ver como membros familiares ou grandes amigos, mas mesmo que todos fizessem o melhor para ele e ele se agradasse disso, o garoto precisava continuar indo em frente, tratando a todos como se fossem obstáculos. Isso me tocou no sentido que para ele era muito fácil desapegar de pessoas que sentiam tanto amor por ele, que choravam a sua partida, mas ele não se importava, seus sonhos eram mais altos e seu único plano era o Alasca.

Depois de ingerir uma planta venenosa, por ter se enganado quanto a sua espécie, Chris percebe que vai morrer e não há nada que possa fazer, ele está no meio de lugar nenhum, dentro de um furgão abandonado, no meio do Alasca. Ele sempre acreditou que era errado acreditar que a felicidade estava na base das relações humanas, mas que estava em todo e qualquer lugar. Outra coisa que para mim era difícil entender, pois interajo direto com pessoas, me alegrando e me entristecendo.

Mas foi aí que veio o grande climax, para mim, de todo o filme. Pouco tempo antes de morrer, Chris pega um dos livros que tanto lia e cita Tolstoy como sua conclusão: "Happiness is real only when shared". Isso significa que a felicidade só é real quando compartilhada. Ele precisou encontrar o isolamento, deixar todos para trás, magoar milhares de corações, para entender que ele nunca poderia viver da maneira que ele queria, pois a felicidade estava com as pessoas que o amavam e que ele, sabendo ou não, amava também.

Nesse momento meus olhos viraram verdadeiras piscinas de lágrimas. Imagens aos montes começaram a passar pela minha cabeça, pessoas que eu conheço ou conheci, aqueles que eu maltratei ou que ainda maltrato, as decisões que tive que tomar na vida, a maneira com que reagi, as vezes em que virei as costas para as pessoas que mais precisavam de mim... Ando um pouco sensível ultimamente, mas não entendo o porque, mesmo. Só sinto que meu corpo e minha mente estão implorando para eu mudar, para eu fazer algo, coisas que eu ainda tenho muito medo...

Mas quem sabe eu não consigo mudar as coisas? Tentar fazer da maneira que eu sinto que é certo. Tudo é muito incerto. Seria mais fácil se eu tivesse alguém pra dividir tudo isso e como conseqüência ser feliz.

_forgive me, for I have sinned

living and letting die
psycology of stupidity and lies
I've become what I most hate
started playin' with others' fate

took the only jewel we all are born with
put it on fire and it burned
made myself a monster by wondering "if"
turned my face away from the things I've learned

for the sense of taste and pleasure
I made a thousand families cry and suffer
yes I'm wrong and for that I apply the closure
filled with shame and pain, so I wander

please bring me the serenity and clarity of mind back
for my actions I mourn with my soul covered in black
I don't wanna take another animal's life again
these are words of desperation, lines of prayer. Amem.

27.1.09

_o homem que decidiu desistir

a garrafa vazia e jogada ao chão
reflexo introspectivo da alma humana
o calafrio que a escuridão emana
e o olhar vazio d'um que nunca cantará outra canção

terá perdido a razão ou um alguém querido?
confiando suas palavras a ele próprio como numa oração
mas dentro de seu peito ainda reside um coração
saltitando e machucando com o saber de que ainda está vivo

buscando na escuridão de seu lar uma saída
vacilando mais uma vez, sabendo que não há ninguém por lá
tão solitário a ponto de não querer que a dor se vá
o barulho de mais uma garrafa recém caída

existência é como uma chama, precisa de ar para queimar
não se pode ser, sem algo já estar sendo
os laços da sua vida se emaranham n'outros que estão vivendo
mas para alguém que não sente mais, porque se importar?

não está sofrendo para chamar a atenção
colocado contra a sua própria vontade em uma prisão sentimental
porém o tempo é cruel e nos faz condicentes por meio de nossa deformidade mental
sua busca não é para finalmente adquirir alguma espécie de perdão

somos seres de carne, osso e pó, sofrendo e nos amargurando
os corações endurecem e ficam como pedra - duros e gelados
o desejo compulsivo e obsessivo de ver todos os seres derrotados
ser o último a fechar os olhos, presenciando tudo, se vingando

o que esperar de um homem sem nada a perder?
ele não quer ser perdoado por nada, tudo é como seria
cada ação, cada palavra e cada atitude, ele agiu como queria
em um mundo torpe tudo o que ele sabe é sofrer

outra garrafa vai de encontro ao chão, mas com ódio
o estardalhaço traz consigo o choro de um bebê e o pranto de um desistente
uma cena triste e humilhante para alguém d'antes visto como resistente
pensamentos a mil, sem rosto, sem imagens, anseiam por uma morte com sabor de ópio

pelo menos ele vai parar de sofrer, enfim ele vai viver
conformista? talvez, mas ninguém pode negar a sua razão
temos outros pontos de vista, outras maneiras de interpretar a ilusão
sempre é difícil crer em algo que não se pode ver

Click, clack, bum.

24.1.09

_o retorno

voltar d'onde fora é sempre novo
com aquele aroma de algo conhecido
espectativas que nunca se cumprirão - talvez
sonhos que nunca serão contados - para alguns
contudo, o retorno sempre teve suas manias
aqueles trejeitos excessivos e desajeitados:
a ansiedade, marcada na ponta de cada dedo
a pressa, dentro de todas as malas espatifadas no chão
a nostalgia, em todo suspiro e lágrima nos olhos
o nervosismo, naqueles gritos de família no meio de todos
exemplo dentre tantas outras passagens
como um sapato apertado machucando o calo do trabalhador
o infernal aeroporto não passa de um carma
um estigma marcado na vida de todo desbravador dos ares
mas nada melhor que chegar em casa e encontrar a sua cama
sentir aquela sensação tão óbvia e tão querida
tirar os sapatos e descansar os pés
já dissera o mestre uma vez:
sem dor, sem ganho
aguardo ansioso o meu retorno

21.1.09

_dramaníaco

O vento bateu mais forte esta tarde e o assovio das janelas me pareceram uivos de uma matilha machucada. Sempre tenho a sensação de que algo ruim e cinematográfico está para acontecer comigo quando me vejo sozinho em algum canto. Ruim, porque nasci para o drama e cinematográfico, porque sempre quero fazer um drama nascer. Estava um dia como outro qualquer, até mais ensolarado que os outros dias, mas ventava como nunca. Você sabe, talvez não, mas além de latinos e brasileiros, o estado da Florida adora receber um furacão ou outro, de vez em sempre. A sensação não era de preocupação, pelo contrário, acho que estava um pouco ansioso.

Imaginem comigo: o prédio começa a tremer, as luzes piscam e a imagem na tv fica trêmula e desliga antes que possa anunciar o estado de alerta. Os armários da cozinha se abrem e todos os talheres e louças começam a cair e quebrar ao chão, fazendo desnecessária uma trilha sonora no momento. Eu me agarro as paredes, achando que elas poderiam estar mais firmes do que eu - enganei-me. Tudo começa a cair sobre minha cabeça e antes que eu possa reagir e correr para a escada, um bloco cai sobre minha cabeça e tudo escurece. Nesse ponto, não adiantaria mostrar todo o trajeto de um soterrado, vamos para a casa de algum colega ou grupo de colegas. Casa de um amigo, todos reunidos conversando e curtindo o momento. Alguém sente a necessidade de ligar a televisão em algum momento da noite e quase que por coincidência o canal sintonizado é o da CNN. "And a building just fell to the ground in southeast Miami, more especific at the Brickell Avenue area", disse o jornalista e foi o suficiente para alertar a todos na sala. Boquiabertos e preocupados os meus colegas se alarmam e esperam pelo pior. Gritos, esperneios, ações sem sentido, falta de esperança, aperto no coração e o jornalista prossegue dizendo que "we have here at the Miami Public Hospital one of the few survivors of this awful disaster, these images may be disturbing". A imagem na tela sou eu, machucado é pouco, estaria a beira da morte ou, ao menos, estragado o suficiente para que meus colegas me reconhecessem, apenas na hora em que o repórter dissesse meu nome, por causa do passaporte que encontraram no meu casaco.

Seria uma cena e tanto, bastariam 5 minutos e eu teria feito história. Ao invés disso o meu telefone tocou, me despedi dos amigos com quem conversava no laptop e fui almoçar fora. Talvez tenha sido melhor assim. É bom estar vivo... criar e vivenciar mais alguns dramas.

18.1.09

_imperfeitas perfeições

Nasci todo torto... Tenho um olho maior que o outro e as sobrancelhas não param quietas. Meu nariz parece um campo minado de cravos com formato de batata cutucada, melhor que minhas bochechas voluptuosas e desnecessárias. Pra completar o meu queixo é pequeno e arredondado, fazendo do meu papo um belo pedaço de banha despencando do pescoço. Meus ombros não são tão largos, mas meus braços são muito compridos. Quando aceno para os amigos, revelo a delicada camada de excesso que escondo próximo as minhas axilas. Minhas mãos são maiores do que meus braços podem suportar, além de manter as unhas roídas religiosamente. Meu peitoral não é malhado e tão pouco "pelado". Minha barriga lembra o resultado inevitável de 50 Oktoberfests com algumas pequenas variações glutônicas. A bunda mais me parece uma fábrica de bosta, a qual serve para acompanhar a figura arredondada das minhas coxas - uma vez malhadas. Pernas, talvez tortas, provavelmente descoordenadas e assimétricas. Meus joelhos me enganam, mal posso correr uma milha. Os pés são grandes como o de gigantes, ajudando na óbvia falta de um designer na hora em que fui criado. E como uma pitada de desgraça, sou coberto por manchas, as tais pintas, pelo corpo inteiro...
Ah, mas como eu sou feliz...
Claro!
Pois se não fossem todas as minhas imperfeições, eu não seria assim... perfeito!

9.1.09

_ah, como era bom

não quero saber se faz sol ou chove
se vou ficar enfurnado ou lá fora
todo aquele lamaçal me comove
trás benção me aflora
a paixão que tenho pelo trovão

pego minha bola de baixo da escada
chuto com precisão
acerto a janela da minha vizinha
preciso correr, não dá pra pedir perdão

ah, como era bom...
juntar toda a turma
fazendo bagunça
um futebol de rua -
passa carro pra lá, passa carro pra cá -
tirando sorriso das meninas no intervalo
batendo bafo e jogando pião
ah, como era bom...

era menino travesso
sempre fui pau torto, desde o berço
mamãe já dizia, esse aí nasceu pra folia
vai dar trabalho carregado por más notícias
tadinha da santíssima

não tinha conta do mercado pra pagar
nem tanta sacola pra carregar
eu era filho, agora sou pai
só me falta cabelo branco - xô satanás!
tô velho, passou o meu tempo
queria brincar, não dá
vou ficar aqui chupando o dedo

ah, como era bom...
juntar toda a turma
fazendo bagunça
um futebol de rua -
passa carro pra lá, passa carro pra cá -
tirando sorriso das meninas no intervalo
batendo bafo e jogando pião
ah, como era bom...

8.1.09

_chicago '70

"As aparências ditam as regras do jogo. Não importa com quem você esteja falando ou qual a marca do seu belíssimo terno azul de risca de giz, você tem que mostrar que é alguém importante. Quantas vezes uma boa resposta não salvou meu pescoço?! Tenho as cicatrizes contadas para contar.

Medo! Isso eles respeitam. Nesse mundo não temos tempo para discutir o que é ético, mesmo que alguns acreditem que somos os cavaleiros de Deus na terra. Uma .40 bem colocada entre os dentes de um carcamano faz ele entregar a própria mãe para um tarado qualquer - dito e feito.

Não somos deuses, temos nossos medos, nossas seqüelas...

Quando era pequeno, minha mãe sempre me dizia que a diferença entre Deus e os homens era que Deus não tinha medo, porque ele estava acima de tudo. Observava tudo e a todos sobre as nuvens, ninguém fica acima de Deus, ele é o padrino de todos.

Hunf... Deus...

Pensando bem, esqueça o que eu disse. Não temos medo, somos o topo da cadeia alimentar. Somos nós, gangster e malandros, que colocamos e deixamos tudo em ordem por aqui. Deixamos os imbecilles com seqüelas irreversíveis e desovamos seus corpos na frente da casa de suas mães para que o exemplo seja dado para todos.

Deus? Se ele existe ou não, pouco me importa. Mas se ele pensar em se meter nos meus negócios, na minha cidade... Eu mostro pra ele como fazemos as coisas por aqui.

Aqui, em Chicago, eu sou DEUS!"

7.1.09

_mas quem sou eu?

aquela moça do vestido branco
de bolinhas vermelhas - um encanto -
vai me fazer sofrer
minha alma vai queimar devagar
ela está atrás do chafariz
está se escondendo dos meus olhos,
mas quem é que me diz
que posso viver sem passar por tudo isso
outra vez?

tava lá na casa de Maria
tão mirrada, tão doce, tão linda
pequena menina
de tranças longas e olhar tão puro
como fui burro
em achar que era eu que iria desvirtuar
o caminho que ela nasceu pra rumar
laialaiá!

mas quem sou eu?
quem sou eu?
pra dizer o que é
ou o que deixa de ser
quem sou eu?
preciso deixar acontecer sozinho
deixar a maré remar o seu destino
mas quem sou eu?

ah, mas nem tudo é tão simples
difícil de se fazer entender
pegou na minha mão trêmula e disse
para eu parar de sofrer
as palavras entraram nos ouvidos,
penetraram o coração
mergulhei naquela doce ilusão
sai, solidão!

mas quem sou eu?
quem sou eu?
pra dizer o que é
ou o que deixa de ser
quem sou eu?
preciso deixar acontecer sozinho
deixar a maré remar o seu destino
mas quem sou eu?

6.1.09

_ãos da guerra

Sem motivo, sem razão
Sem ciência, sem noção
Caminha a tropa de supetão
O tiro arrombou o portão
Derrubou as defesas do capitão
Saquearam tudo, gastaram munição
Explosões chamaram a atenção
Morreram morridos ou de humilhação
Venceram a batalha, massacraram uma nação
Há quem diga que foi tudo armação
Vazaram as coordenadas da invasão
Boom, boom, boom - explosão
Quantas almas são?
Quantas armas são?
Todo o sentimento de indignação
Deixado de lado pelo ódio de paixão
E os vitoriosos onde é que estão?
Os vivos onde estarão?
Para onde todos eles vão?

4.1.09

_conversa de botequim (salgado estragado)

"Cansei de comer isso!"

"Cansou de comer ou cansou disso?"

"Qual a diferença? Odeio quando começa com essas perguntas."

"Tudo é diferente. Nada é igual."

"Ontem mesmo você disse que nada se cria, tudo se copia. O que mudou de lá pra cá?"

"Tudo. Obama ganhou a eleição."

"Continuo me surpreendendo. Andou lendo? Isso que é mudança."

"O que será do Iraque agora?"

"Acho que nada. Vão só mudar as tropas de países. Daqui pra cá, só."

"Muda o presidente, muda o alvo. Quando vão derrubar a estátua da liberdade?"

"Não sei. Algum plano?"

"Não... Vai jogar isso fora?"

"Toma! Se bem que quem vai tomar mesmo é o povo daquela região."

"Devem estar acostumados."

"Conformismo é uma praia na qual eu não pretendo surfar."

"Você surfa?"

"Começou com as perguntas de socialização."

"Tem algo que você não odeie?"

"No mundo ou em você?"

"Eu sou seu mundo."

"Tá respondido..."

"Esse salgado tá horrível! Porque não me avisou?"

"Culpa da globalização."

3.1.09

_faroeste noturno

Como um filme de bang-bang italiano
Se é mocinho(a) ou bandido(a), tanto faz
Mãos no rosto e braços entrelaçados na cintura
(Silêncio)
Uma pausa - momento racional
"Ainda estão alí?"
"Acho que não acordam, lembra-se daquela vez?"
(Silêncio)
Esquenta o clima, esquenta o tempo
O toque simula o desejo, materializando-se
(Barulho)
"Que foi?"
"Não ouviu? Acho que acordaram..."
Esfria o linque, mas o calor mantém-se alojado
Aguardam um ao outro, sem demonstrar - disfarce mal produzido
"Estão do mesmo jeito."
"Que confusão. O que fazemos?"
"Não sei..."
Puxa pelo braço, deitam-se lado a lado
(Silêncio)
Apenas o estalo de um beijo
Um momento desprevinido - uma risada
Poucas trocas de olhares, até agora
Pára tudo...
"Vamos dormir!"