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23.7.09

_ gritos do porão

e ouço aquele grito mais uma vez
as paredes do porão são fracas
fracas demais para aguentar
todo o barulho que ele faz
e não irá parar
nunca

(como em uma oração)

óbvio
a dor é grande
cada dedo arrancado
ele é fraco para aguentar
as minhas facas são afiadas
e ouço aquele grito mais uma vez

(como em uma oração)

28.4.09

_maré embriagada

me forçaram a ser alguém
alguém que eu não quis ser
eu perdi a minha infância
na maré embriagada da ânsia

se abri a boca para expressar
rogaram-me montes de maldições
se calei meus pensamentos
me trancafiaram nas piores condições

(coma da minha carne
beba da minha urina
caminhe dentro da sua doutrina
desencarne e reencarne)

estuprou os meus sonhos
como se fossem belos anjos
regozijou de prazer enfadonho
sobre a carcaça que esbanjo

sentiu meu sangue em suas mãos
encarou o meu olhar sem vida
jogou suas preces contra o chão
minha alma não foi absolvida

achou que era deus e eu adão
você me tornou o que eu sou
voltei para retribuir sua ingratidão
não se pode matar o que não criou

19.2.09

_poema aos mortos (ela)

se eu pudesse apagar um momento de dor
eu jogaria tudo fora, até mesmo o nosso amor
se eu pudesse ser deus, sabe o que eu faria?
nadaria pelo seu sangue e esse câncer eu mataria

ás vezes, quando estou sozinho, eu ainda a sinto
respirando no meu pescoço, você ainda está comigo
onde estará? você sente o gosto do meu lamento?
aguente o consumo ou use meu corpo de alimento

você é eterna, em meu coração nunca morrerá
você é eterna, ainda penso onde é que estará?
pedi para morrer primeiro, mas você insistiu no erro
destruiu nosso romance do pior jeito, no seu enterro

_mate-me, por favor

abracei a escuridão que me rodeia
transformei-a em minha própria essência
por não compreender, fiz de meu amor um deus
seguindo cegamente a todas suas ordens
iniciei uma caminhada para o precipício
larguei tudo que tinha em queda livre
matei todos os meus outros sentimentos
e desesperei-me com meus pesadelos
tornei-me o senhorio de um "eu" decadente
a perda eterna e desenfreada da alegria
fez com que o mundo repelisse minha existência
isolei-me na parte mais obscura de meus desejos
cultivei flores para enfeitar o meu funeral
são rosas, que trazem o contraste em questão
cheiram a morte, me lembram da dor
buscando a paz eterna, me machuco ainda mais
todas lembranças de sorrisos me incomodam
e transformam-se em lágrimas nos meus olhos
estas, por sua vez, trazem vida para o mundo
e me fazem sofrer e chorar ainda mais
entendam que eu não quero mais tentar!
entrego minha essência nas mãos do mundo
façam como quiserem, façam o que quiserem
não sou mais eu o mediador do meu destino
venham contra mim! destruam-me!
tenham a decência de fazer aquilo que eu não consigo
ouçam a minha voz, o meu clamor!
só espero um dia poder dar o último suspiro
sentir todo respingo de vida escorrer para fora de mim
e vivenciar a minha não-existência em paz, sem dor,
sem mim...

1.2.09

_(des)encontrando minha alma

minha alma se refugia em alto mar
para que suas lágrimas caiam desapercebidas
sem poder ver através da espessa camada de neblina
ela se perde no caminho até sua decadente morada
buscando por um horizonte, um caminho a seguir
seu esforço começa a pesar sobre seu senso de esperança
mergulhada em meio as águas salgadas do oceano
não se sabe quantas são lágrimas suas ou de outrem
existência infinita confinada em uma ampulheta finalística
as ondas se acalmam por um instante, algo novo aconteceu
o eterno azul sente o sabor de ferrugem, concentrado, grosso
sangue? uma alma está a sangrar em pleno alto mar
perversidade contra a vida, afronta ao próprio deus
eu sinto a dor dela, sinto a abertura d'um corte profundo
sou eu!? sou eu quem está sangrando!
mas onde está a minha alma? eu a vi sofrendo sobre aquelas águas
não adianta, minhas vestimentas e meus pés estão ensopados
sou eu quem sofre durante todos esses anos
eu que preenchi o vazio dentro desta pocilga inundada
desencontrei a minha alma, mas encontrei a minha dor
lutar não é alternativa, muito menos uma opção
deixo o ar sair sem tentar lutar, faltam-me forças e vontade
deixei-me levar pelo comodismo de uma imaginação fértil
não sou descarado para tentar fazer de tudo um grande caso, não mais
só me arrependo por uma coisa, um algo que irá comigo para a cova:
ter causado um aborto espontâneo do fruto d'um conto de fadas.

27.1.09

_o homem que decidiu desistir

a garrafa vazia e jogada ao chão
reflexo introspectivo da alma humana
o calafrio que a escuridão emana
e o olhar vazio d'um que nunca cantará outra canção

terá perdido a razão ou um alguém querido?
confiando suas palavras a ele próprio como numa oração
mas dentro de seu peito ainda reside um coração
saltitando e machucando com o saber de que ainda está vivo

buscando na escuridão de seu lar uma saída
vacilando mais uma vez, sabendo que não há ninguém por lá
tão solitário a ponto de não querer que a dor se vá
o barulho de mais uma garrafa recém caída

existência é como uma chama, precisa de ar para queimar
não se pode ser, sem algo já estar sendo
os laços da sua vida se emaranham n'outros que estão vivendo
mas para alguém que não sente mais, porque se importar?

não está sofrendo para chamar a atenção
colocado contra a sua própria vontade em uma prisão sentimental
porém o tempo é cruel e nos faz condicentes por meio de nossa deformidade mental
sua busca não é para finalmente adquirir alguma espécie de perdão

somos seres de carne, osso e pó, sofrendo e nos amargurando
os corações endurecem e ficam como pedra - duros e gelados
o desejo compulsivo e obsessivo de ver todos os seres derrotados
ser o último a fechar os olhos, presenciando tudo, se vingando

o que esperar de um homem sem nada a perder?
ele não quer ser perdoado por nada, tudo é como seria
cada ação, cada palavra e cada atitude, ele agiu como queria
em um mundo torpe tudo o que ele sabe é sofrer

outra garrafa vai de encontro ao chão, mas com ódio
o estardalhaço traz consigo o choro de um bebê e o pranto de um desistente
uma cena triste e humilhante para alguém d'antes visto como resistente
pensamentos a mil, sem rosto, sem imagens, anseiam por uma morte com sabor de ópio

pelo menos ele vai parar de sofrer, enfim ele vai viver
conformista? talvez, mas ninguém pode negar a sua razão
temos outros pontos de vista, outras maneiras de interpretar a ilusão
sempre é difícil crer em algo que não se pode ver

Click, clack, bum.

10.12.08

_fugir (de vez)

Quantas foram as vezes em que perguntaram para você o porque de suas revoltas, o porque de suas vontades, de seus desejos mórbidos? É tão fácil olhar para as pessoas subindo e descendo as ruas com um sorriso conformista no rosto, brincando de tenho-uma-vida-boa. Bando de hipócritas - ha ha ha!

Será que é tão difícil assim assumir que se é infeliz? Todos deveriam encarar a realidade das suas vidas inúteis e desprezíveis e tentar viver com elas, seja lá como for "melhor". Já disse Saramago: "não sou pessimista, o mundo é que é péssimo" - compartilho com certo orgulho das idéias do mesmo. Querem que eu seja mais positivo, mas como? Me mostrem algo nesse mundo que traga felicidade sincera, algo completo e perfeito, amor de verdade, carinho honesto... não tem nada disso nesse mundo esquecido por Deus - você está ouvindo? - que faça de qualquer ser humano, um ser completo e verdadeiramente feliz.

Dinheiro!!! - gritou o imbecil.

O que o dinheiro oferece para todos é a ilusão de uma vida próspera. Se nem mesmo os sentimentos ditos decentes podem suprir o buraco com que nascemos dentro de nós, o que o dinheiro vai poder fazer? Carros, casarões, viagens, "etecétera e tal". Tudo não passa de uma ilusão, afinal aquilo que vem das mãos do homem só pode destruir, só pode fortalecer a auto-destruição tão característica em todos nós homo sapiens sapiens! Velhos podres de rico tem o coração mais podre ainda... são mesquinhos e dignos de dó. Com seus narizes empinados e sua maldita arrogância costumeira de sempre, eles conseguem trazer o pior para esse mundo e para os pobres iludidos que sobrevivem ao redor deles.

Ninguém sabe como é tentar não acordar - não como foi para mim - e falhar miseravelmente todas as vezes, sempre se arrependendo depois por não ter levado tudo adiante. Querem saber como foi? Ouçam minhas palavras! Querem provas? Olhem meus pulsos! Olhem meus olhos! Enxerguem dentro da minha alma e achem o que tanto procuram: dor, sofrimento, solidão, desespero, carência, desilusão, ódio, angústia, raiva, nojo, enjôo. "Seja feliz, vá viajar, não pode ser tão ruim assim, ache Jesus". Chega de tantas mentiras, pra que tudo isso? Você não me conhece, não sabe como eu sou por dentro, não sabe o que eu passei por sua causa - nunca vai querer saber - e por causa de todos os outros... o que eu me permiti fazer, deixar de fazer...

Gostaria de conhecer alguém que pudesse mirar uma arma contra minha cabeça e atirar... atirar... atirar... e atirar mais uma vez. Explodir meu crânio e espalhar todos os pedaços do meu cérebro pela rua, dispersados pelos carros que passam em alta velocidade. Escrevo isso com alegria em meu coração, afinal eles dizem que devemos amar o nosso próximo como amamos a nós mesmos. Não tem ninguém que faça o "próximo" mais feliz do que eu. O "próximo" quer me ver sofrer, cair, chorar, perder, mentir, surtar e ele sabe que consegue isso com pouco esforço. Assim sendo, eu o faço bem, o faço feliz. Sou um perfeito discípulo - cordeiro em meio a lobos - de Deus.

Já fugi e não me arrependi. Fui covarde e ridículo, mas fui livre. Eu podia sorrir sem remorso e podia chorar por estar feliz - coisa rara. Fugiria mais uma vez, mas sem retroceder, sem me desviar do meu objetivo principal. Morrer.

9.12.08

_começa o fim, mais uma vez

Começa o fim, mais uma vez - fim infinito, fim sem final
Os raios de sol escondidos por trás de nuvens negras
O trovejar dos gritos dos anjos - morrendo, sangrando
Ecoam no vácuo que existe dentro de mim
Não mais corro atrás de você, não mais
Sonhos e desejos tornaram-se pesadelos indecentes e obscenos
Obscuridade proeminente dentro de meu coração
Resgate orgulhoso de uma alma vendida ao próprio cão
Maldito anjo caído que tomou-me sob suas asas de amor e ilusão
Reneguei minhas raízes, deixei tudo para trás
Apodreci por dentro e me tornei oco como uma árvore podre
Caí sobre minhas próprias expectativas, deparei-me comigo mesmo
Encarei de frente um mau que residia dentro de mim - adormecido
Uma besta inescrupulosa e vil, sedenta por sangue e lágrimas
Corroendo as minhas entranhas e sucumbindo-me a uma dor indescritível
É o fim
Mais uma vez é o fim
Clamo aos demônios perturbadores, aos seres pútridos da terra
Que ao fechar os olhos, a imagem maldita de um novo dia não venha me assombrar
Mais uma vez
Em mais um fim