30.7.09

_ minha mente

minha mente não tem barreiras,
ela pensa em elefantes enquanto falo de girafas;

minha mente não tem limites,
ela funciona sem nem mesmo precisar pensar;

minha mente não tem algo a mais,
ela pensa como todos, mas de maneira diferente;

minha mente não inventa,
ela me revela mundos e pessoas que só ela conhece;

minha mente não tem sentido,
ela ruma por todos os caminhos,
mesmo aqueles que nem ainda existem;

por fim,
minha mente não tem mente,
afinal já basta eu para pensar

_ ideolo(r)gia

fé é base para o desconhecido
o fiel se baseia em livros
cai no conto do vigário todo domingo
estupro da alma, homenagem ao Senhor

fé é dar razão ao seu deus
o fiel teme o arder das chamas
se deixa levar por contos infantis
busca sem início, meio e fim

todos necessitam de ideologias
sentir que estão aqui por algum motivo
seguindo rumo a uma vitória efêmera:
passa rapidamente e desaparece

dedicar toda a vida treinando
o corpo, a mente e a alma, rigorosamente
tudo por um objetivo fugaz
em nome da sua ideologia

como em um holocausto
agora você torna-se a oferenda
é assassinado, apedrejado e crucificado
enquanto queima nas chamas que tanto temia

29.7.09

_ bárbara cidade

assassinaram o seu filho
você grita: 'ele estava na escola'
assassinaram a sua certeza
você grita: 'eu não esperava'
assassinaram sua esperança
você grita: 'não tem mais jeito'
assassinaram sua fé
você grita: 'deus, porque me abandonastes?'
assassinaram seu filho
e ele estava na frente do colégio
seu ódio materno julga os excluídos
mas saiba que a morte do seu filho
foi apenas mais uma dentre mil
pobres presos/mortos por assaltos
que eles mesmo praticaram
para tirar tudo daqueles que andam sobre saltos
acabam se auto-difamando
porém o propósito é nobre
nobreza não é elitista
nobreza é parte da honra de cada um
rouba de quem tem muito para dar a quem não tem nada
seu filho está lá com o crânio aberto
uma bala foi o suficiente
varou e quase acertou um homem doente
que aguardava sua carona no ponto de ônibus
era pobre como o assassino e por isso não o impediu
mesmo que não pudesse, nem pensou na possibilidade
afinal, de cada um burguês morto
são chacinados milhares da comunidade
e não venham me dizer que sou hipócrita
trabalho e ganho o meu dinheiro
ajudo quando posso e tento sobreviver
não sou pobre como os outros, mas tenho minhas raízes
de burguês tenho a cor da pele
mas a alma é negra como a de um assassino inocente.

23.7.09

_ inspirar a eternidade

existência é chama
suga o ar para viver
é câncer benigno
inspira a vida para si

controle é ventania
sopra para longe o que se quer perto

vontade é disciplina
luta para se manter
é ganância benigna
inspira viver a vida

individualidade é sanidade
mantém os pé no chão, enquanto voamos

eternidade é sonho
repousa-nos para surgir
é loucura benigna
inspira, para si, viver

individualmente, temos vontade de controlar nossa existência para sermos eternos.

_ gritos do porão

e ouço aquele grito mais uma vez
as paredes do porão são fracas
fracas demais para aguentar
todo o barulho que ele faz
e não irá parar
nunca

(como em uma oração)

óbvio
a dor é grande
cada dedo arrancado
ele é fraco para aguentar
as minhas facas são afiadas
e ouço aquele grito mais uma vez

(como em uma oração)

22.7.09

_ infernoíso

'políticação' e 'corrupolítica':
todos iguais como tudo é
a direita é toda esquerdista
a esquerda é toda direitista

nós somos deixados no meio
assim como ficamos isolados
entre o céu e o inferno coletivo

uma luta que não é nossa
é travada usando-nos de peões
Jesus Hitler abraçou seus fiéis em coro
Satãlin pregou a sua indignação

não são eles que morrem
que perdem o sangue inocente
ou sentem a dor da perda

para todos aqueles que acreditam
que na vossa política está a solução (total)
deixo nada mais que uma lágrima
pois a dor da vossa partida é grande (demais)

_ desconsagração do amor

amor não é santo, nem obra imaculada
de obra só é arte e a é por transcender
não gira em círculos, pois não tem forma
é passarinho engaiolado sem se prender

se é muito ou é pouco cabe a ele ser
ninguém domina aquilo que não se pode ver
caminha sobre ruas óbvias com desvios novos
e surpreende mais por ser o caminho em si

amor não é política, nem messias por vir
de salvador só tem pinta, mas é puro boemia
não permanece o mesmo, afinal nem sabe se 'é'
mesmo tendo várias formas e meios de o ser

se já foi ou está por vir, quem sabe?
todo mundo quer um amor só para si
seja do jeito que todo mundo quer ou só seu
Fréya tem para todos um pouco dela

amor é amor, pois só o amor ama a todos
homens são amantes de pessoas amadas
já ele, que também é ela, mergulha em cada um
é motivo para paz e para guerra, para começo e fim

se consagrar um sentimento ele o deixa
tanto que os fanáticos se perderam na perda
mas pra que ter medo de perder o amor?
tudo que se perde é alguém que o amou

21.7.09

_ di(g)álogo

- eu detesto poesia. coisa de fresco!
- poesia é refresco.
- não preciso de ninguém pra refrescar meus pensamentos...
- se você pensa, você filosofa. e todo filósofo é poeta.
- filosofia é sentido da vida sem saber por onde começar!
- isso não é poesia?
- não, é sinceridade.
- por isso é poesia.
- mas todo poeta não é um fingidor?
- finge que finge, mas só fala o que tem no coração.
- e desde quando escritor tem coração?
- desde o dia em que aprendeu que o lápis risca o papel.

_ medo de possuir

Toda vez que paro para pensar naquilo que possuo,
eu questiono a minha autoridade de posse.
Quero eu ter algo sendo que 'ter' me torna em um possível 'perdedor'?
É quando uma frase vem a minha cabeça:
'vale a pena viver toda uma vida de luta, por cinco minutos de paz?'.
Vale. Vale cada segundo.
E eu não vou desistir de te amar e ter o seu amor para mim.

_ mudanças

Hoje eu busquei um copo de uísque,
mas os motivos foram outros
Não tenho razão pra festejar,
são problemas que eu gostaria de esquecer

Problemas que nem sei se existem,
coisas que incomodam os sentimentos
E como são eles os incomodados
temo que eles acabem se retirando

Talvez nem tenha o direito de estranhar,
mas é que, de repente, tudo está diferente
Sei que nada permanece o mesmo,
o que me assusta, por temer mudanças

Olho para o telefone e quero perguntar
se esses sentimentos tem algum fundamento
Só que desisto de ir atrás de você,
com medo de tornar o inexistente existente

Nós dois eramos diferentes, no agir
Eram abraços apertados e cheios de nós
Hoje o silêncio interpela e incomoda,
não mais complementa a situação

E, olhando para o fundo do copo, lembro-me
minha tristeza vai me consumir eternamente
criando empecilhos e destacando as erupções.
De um coração perdido para um amor que (talvez) mudou

20.7.09

_ suspicious mind

ás vezes eu fico sem nada pra pensar
e quase nada pra fazer ou olhar
só que a minha cabeça é pior que bêbado em dia de churrasco
ela não sabe quando parar

impulsiona todos os neurônios à dúvidas inúteis
do tipo que o diabo gosta de se alojar
e queimam todas informações úteis ao redor
se é que estas já andaram por lá

mas a questão não é o que impulsiona minha mente vazia
a solução da equação imaginativa é o problema real
eu suspeito do irreal, ou melhor, do surreal
porque mesmo tendo a certeza do absurdo, ainda me permito questionar

a permissão é, mais uma vez, cedida pela minha ausência mental
realmente não há mal em duvidar, se a dúvida resolve pairar sobre nós
porém, é horrível suspeitar de algo insuspeitável
é como indagar-se sobre ter ou não comido, estando o prato sujo e vazio a sua frente

embebedo-me, em conhecimento, para tentar fugir da minha mente
mas por onde quer que eu ande, ela está lá - vazia
me perguntando se tenho certeza daquilo que já sei
e insistindo que eu devo suspeitar de você

12.7.09

_ entre viver e saber viver

chegamos ao absurdo da imposição
não foi conselho de qualidade
nem exemplo de boa disposição

disseram que é preciso saber
saber como viver, senão o quê?

filósofos ignorantes, talvez inocentes,
propagam a propaganda vendável
certezas nas palavras, são inexistentes

afinal, do que adianta saber viver
se primeiro é necessário apenas viver?

se primeiro saber, depois o que fazer?
quem sabe algo só sabe algo sabido
quem é algo é tudo aquilo que deseja ser

6.7.09

_ bondade d'alma

Fui aquele a quem mais dei valor
numa infância cheia de inocência e desapego
pensava sempre que era o escolhido
sem saber para o que alguém me escolheria

Mas o tempo passa e as virtudes se vão
deixei as vendas de lado e envelheci
a luz que emana em mim agora é sombra
trilhei um caminho supondo sua perfeição

Só a frieza da certeza que encontro na solidão me faz são
pois é nessas horas em que a verdade vem e aperta e faz gritar
passou o tempo, ainda mais do que já havia
me perdi em tudo aquilo que encontrei pela vida

Cultivei meus dias na crença da bonança
apeguei-me a tolos e tornei outros em tolos por se apegarem a mim
cutuquei feridas e não sinto culpa ou remorso
afinal, eu não sou um cara tão bondoso assim.