27.12.08

_01/01/2009

Dia um de Janeiro de dois mil e nove
O dia depois da última noite do ano
Fogos de artifício, fogo de bebida
Gritaria e música alta na orelha da costa praiana
Saudades do ano velho que já se foi
Já era hora, já era tempo
Morreu o que passou e nasceu o que virá
Aproveito o hoje, esquecendo o ontem
Vivendo o presente e aguardando o futuro
Dia um de Janeiro de dois mil e nove
A ressaca machuca a cabeça esquecida
Bafo azedo, moça roncando
Gritaria e silêncio na orelha da desconhecida
Saudades da hora em que eu estava sóbrio
Era hora, era tempo
Esse ano novo nunca mais será o mesmo
Terei um filho ou filhinha
Esqueci-me da camisinha...

FELIZ ANO NOVO!!!

21.12.08

_então é natal

Finalmente o bom velhinho vai sair de sua casa, no pólo norte, e distribuir para toda as crianças do mundo, sua mensagem de amor, de esperança e presentes. É fato marcado que algumas crianças quando perguntadas sobre quem é Deus, descrevem uma figura similar, senão exatamente igual, ao velho pólo-nortista.

No mundo cristão, o natal é a celebração do nascimento do menino Jesus, símbolo principal de toda a religião pós-judaica. Sendo assim, com quase 33% de toda a população mundial sendo cristã (católicos, protestantes, etc), o natal é uma das festas pseudo-religiosas mais globalizada do mundo. Ao modo de ver desses mesmos crentes, essa festa é motivo de celebração e perpetuação das mensagens de paz e harmonia entre todos os povos, mas de boas intenções o inferno está cheio. Mantendo o pensamento niilista da Igreja e acompanhando os relatos bíblicos, os fiéis não só relembram do nascimento do seu Messias, como também, o fato de seu retorno estar, possivelmente, cada vez mais próximo. Lendo algumas páginas do livro de apocalipse, podemos relatar fatos fantásticos e inimagináveis para meros mortais como nós - “E vi subir do mar uma besta que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre os seus chifres dez diademas, e sobre as suas cabeças um nome de blasfêmia, APC 13:1” - e ao mesmo tempo, paramos para pensar sobre o tal dia que há de chegar.

Com todas as palavras de esperanças contidas neste livro, os próprios fiéis sentem calafrios ao ouvirem termos como “besta” e “sofrimento eterno”. Por outro lado, enquanto nós cristãos aguardamos o dia do retorno de nosso Messias com certo distanciamento, pessoas que passam horrores muito mais assustadores do que os relatados na Bíblia, anseiam pelo dia descrito a tanto tempo atrás.

Li a pouco uma matéria na VEJA – manipuladora, mas com informações relevantes – que me deixou intrigado e pensativo. Enquanto o simbolismo natalino é espalhado e vendido por empresas publicitárias e companhias de telemarketing, milhares de pessoas são postas sob a opressão e o desespero de vivenciarem um genocídio sem fim no coração da África. Cristãos de países desenvolvidos fazem trabalhos missionários, acreditando que disseminar a palavra de Deus para os povos menos afortunados, trará a salvação, talvez não neste mundo, mas noutro. A resposta é dura e sincera: “Precisamos de Cristo não porque os homens se esquecem de ter fé, mas porque, com freqüência, eles abandonam a Razão e cedem ao horror”.

É triste saber que ainda, depois de tantas décadas, o homem não aprendeu com os seus erros e pior, insiste constantemente em repetí-los. Guerras pelo poder e pelo dinheiro, como crianças disputando um canto melhor do playground. Fronteiras dividindo países, pessoas, famílias, esperanças. Ditadores disfarçados de políticos e políticos disfarçados de revolucionários. Um mundo, onde as pessoas não podem confiar nem em suas próprias sombras, declama que o Natal vem aí para trazer amor e esperança.

Escrevo a minha carta para o Papai Noel com cópia para Deus e peço a eles que leiam com atenção e compreendam a minha boa intenção. Se é que algum dos dois existe, venham e terminem de vez com a dor de tantas pessoas no mundo. Ajudem aqueles que precisam e merecem – relativo – ser ajudados. Quantas mais lágrimas e quanto mais sangue a terra há de degustar até o Salvador retornar? Me sinto infeliz por saber que essa carta não tem destinatário real e nunca será respondida, mas mais infeliz eu fico de saber que a culpa é do homem e o homem nada faz para mudar.

16.12.08

_empurrão para a vida

Tudo escuro e tão apertado
Ouço um cantarolar gostoso, me acalma
Uma sensação morna e aconchegante
Respiro fundo e aproveito cada segundo
Claustrofobia - preciso me soltar de uma vez
Empurro, aperto, empurro com força!
O cantarolar cessa por alguns instantes
Tenho medo do que pode estar acontecendo
Junto todas as minhas forças
CRACK!
Uma luz penetrante machuca meus olhos
O cantarolar retoma de onde havia parado
Mas está diferente, parece falar comigo
Está pedindo que eu cante com ele
Nunca falei antes na minha vida, como se faz isso?
Engulo a secura da minha garganta
Tento me posicionar de alguma forma que pareça certa
Tento, mas falho
O cantarolar continua me incentivando
Tento de novo, estou quase lá!
Só mais um pouco...

PIU!

10.12.08

_fugir (de vez)

Quantas foram as vezes em que perguntaram para você o porque de suas revoltas, o porque de suas vontades, de seus desejos mórbidos? É tão fácil olhar para as pessoas subindo e descendo as ruas com um sorriso conformista no rosto, brincando de tenho-uma-vida-boa. Bando de hipócritas - ha ha ha!

Será que é tão difícil assim assumir que se é infeliz? Todos deveriam encarar a realidade das suas vidas inúteis e desprezíveis e tentar viver com elas, seja lá como for "melhor". Já disse Saramago: "não sou pessimista, o mundo é que é péssimo" - compartilho com certo orgulho das idéias do mesmo. Querem que eu seja mais positivo, mas como? Me mostrem algo nesse mundo que traga felicidade sincera, algo completo e perfeito, amor de verdade, carinho honesto... não tem nada disso nesse mundo esquecido por Deus - você está ouvindo? - que faça de qualquer ser humano, um ser completo e verdadeiramente feliz.

Dinheiro!!! - gritou o imbecil.

O que o dinheiro oferece para todos é a ilusão de uma vida próspera. Se nem mesmo os sentimentos ditos decentes podem suprir o buraco com que nascemos dentro de nós, o que o dinheiro vai poder fazer? Carros, casarões, viagens, "etecétera e tal". Tudo não passa de uma ilusão, afinal aquilo que vem das mãos do homem só pode destruir, só pode fortalecer a auto-destruição tão característica em todos nós homo sapiens sapiens! Velhos podres de rico tem o coração mais podre ainda... são mesquinhos e dignos de dó. Com seus narizes empinados e sua maldita arrogância costumeira de sempre, eles conseguem trazer o pior para esse mundo e para os pobres iludidos que sobrevivem ao redor deles.

Ninguém sabe como é tentar não acordar - não como foi para mim - e falhar miseravelmente todas as vezes, sempre se arrependendo depois por não ter levado tudo adiante. Querem saber como foi? Ouçam minhas palavras! Querem provas? Olhem meus pulsos! Olhem meus olhos! Enxerguem dentro da minha alma e achem o que tanto procuram: dor, sofrimento, solidão, desespero, carência, desilusão, ódio, angústia, raiva, nojo, enjôo. "Seja feliz, vá viajar, não pode ser tão ruim assim, ache Jesus". Chega de tantas mentiras, pra que tudo isso? Você não me conhece, não sabe como eu sou por dentro, não sabe o que eu passei por sua causa - nunca vai querer saber - e por causa de todos os outros... o que eu me permiti fazer, deixar de fazer...

Gostaria de conhecer alguém que pudesse mirar uma arma contra minha cabeça e atirar... atirar... atirar... e atirar mais uma vez. Explodir meu crânio e espalhar todos os pedaços do meu cérebro pela rua, dispersados pelos carros que passam em alta velocidade. Escrevo isso com alegria em meu coração, afinal eles dizem que devemos amar o nosso próximo como amamos a nós mesmos. Não tem ninguém que faça o "próximo" mais feliz do que eu. O "próximo" quer me ver sofrer, cair, chorar, perder, mentir, surtar e ele sabe que consegue isso com pouco esforço. Assim sendo, eu o faço bem, o faço feliz. Sou um perfeito discípulo - cordeiro em meio a lobos - de Deus.

Já fugi e não me arrependi. Fui covarde e ridículo, mas fui livre. Eu podia sorrir sem remorso e podia chorar por estar feliz - coisa rara. Fugiria mais uma vez, mas sem retroceder, sem me desviar do meu objetivo principal. Morrer.

_Seien Sie mein nur, für immer!

Der Ton der Rosen und des Geruchs des Winds, laufend nach der Oberfläche meiner Haut.
Verwundet durch die Sünden habe ich in der Vergangenheit festgelegt, aber hoffend, einen Ausweg heute zu finden.
So hat meine Zukunft eine Geschichte, zum zu sagen.
Können Sie die Wörter lesen, die ich hier spreche?
Können Sie das sein, zum zu gehen dieser Weg mit mir?
Schwärzung ist mein Freund, meine geliebte Braut.
Gehen Sie nicht weg von ihr, lassen Sie sie Sie umfassen und Ihre Seele eintragen.
Lassen Sie die salzigen Risse, die auf ihren Selbst trocken sind.
Verbreiten Sie Ihre Flügel und fallen Sie in den Ozean von Träumen.
Seien Sie mein nur, für immer!



[tradução nos comentários]

9.12.08

_começa o fim, mais uma vez

Começa o fim, mais uma vez - fim infinito, fim sem final
Os raios de sol escondidos por trás de nuvens negras
O trovejar dos gritos dos anjos - morrendo, sangrando
Ecoam no vácuo que existe dentro de mim
Não mais corro atrás de você, não mais
Sonhos e desejos tornaram-se pesadelos indecentes e obscenos
Obscuridade proeminente dentro de meu coração
Resgate orgulhoso de uma alma vendida ao próprio cão
Maldito anjo caído que tomou-me sob suas asas de amor e ilusão
Reneguei minhas raízes, deixei tudo para trás
Apodreci por dentro e me tornei oco como uma árvore podre
Caí sobre minhas próprias expectativas, deparei-me comigo mesmo
Encarei de frente um mau que residia dentro de mim - adormecido
Uma besta inescrupulosa e vil, sedenta por sangue e lágrimas
Corroendo as minhas entranhas e sucumbindo-me a uma dor indescritível
É o fim
Mais uma vez é o fim
Clamo aos demônios perturbadores, aos seres pútridos da terra
Que ao fechar os olhos, a imagem maldita de um novo dia não venha me assombrar
Mais uma vez
Em mais um fim

4.12.08

_do fundo do oceano

Tantas histórias, passagens, para contar. Fábulas perdidas em mares nunca d’antes navegados – faltam-me palavras próprias que enxuguem meus olhos e acalmem minha euforia nostálgica. Lutas, derrotas, fatos – mentiras (, talvez).

Frases prontas, formadas, tornam-se velhas amigas e (certo tipo de) autoflagelação – sob o olhar distante da minha insegurança. Todavia, ao recordar-me do passado tenho em mente os anjos – querubins astutos e desocupados – que sobrevoavam com imponência os meus caminhos, minhas escolhas – alheios aos meus passos, observavam apenas o caminho. Velho e doente me tornei por causa deles, meninos alados que não são meninos, nem meninas – porque haveriam de “ser”? - que teimavam em opinar nos caminhos que escolhi percorrer. Trouxeram, para mim, angústia e desolação – solidão. Abatido eu me tornei e os cruéis seres das sombras sabiam o que fazer. Monstros cruéis e escarnecedores, mutiladores desprezíveis dos sonhos que não me lembro mais – demônios. Cantarolando cânticos profanos, atormentando minh’alma doente.

Diante do absurdo da minha consciência espiritualista e senil, o céu continua azul.

E o mar? Inúmeras vezes eu tentei sair do mar, mas o mar nunca quis sair de mim. Ele permanece eterno sobrevoando a imensidão de um mundo submerso, desconhecido – até mesmo para este velho lobo do mar. O toque suave da marola e a violenta tempestade abatendo os corações de mães viúvas e filhos órfãos. O mar tende a me fazer perder o fôlego e a razão, me faz fugir do assunto e delatar todos os seus atos majestosos sobre a terra.
Quantos tesouros estarão escondidos? Quantos homens foram em busca do brilho de pedras preciosas e não voltaram mais? Assim trouxeram a discórdia e a desilusão de uma paisagem tão falsa, tão irreal. São pobres diabos, porque não haveriam de ser? Lançam aos tubarões tudo aquilo que têm, em busca de esperança – do tipo que se compra. São aventureiros de corações solitários. Lembro-me de um marinheiro – amigo antigo, foi-se o tempo – que dizia: Ser só e ser solitário são coisas completamente opostas. Posso muito bem estar sozinho, mas não me sentir solitário.

“Terra à vista!”

Malditos sejam os gajeiros e seus olhos de águia – vêem com eficácia terras e barcos a milhas de distância. Mas minha realidade é outra. Enganei-me todas as vezes que ouvia os gritos do cesto de Gávea. Procurava refresco, um pedaço de terra – nem que uma ilha – para deitar a cabeça e descansar os pés sem sentir a leve e discreta maré nauseante, mas só encontrava mais motivos para suspirar de desgosto. Nasci homem do mar, filho de homem do mar e por isso me faltam tantas cousas, principalmente sorte. Nunca conheci um adepto tão crente em sua má sorte, como eu. Pessimismo é para os fracos, eu relato aquilo que tive de viver – relato com sabor azedo e textura áspera.

Pode ter um homem do mar esperanças de encontrar outras histórias para viver? Outras lamúrias para chorar, outras desgraças para murmurar? Terei eu o ombro d’uma outra mulher a se amar? Sozinho, louco e deixado para trás como um animal sentindo o êxito da morte sobre ele, afastando-se da manada para não causar problemas maiores do que eles já têm. Mas você não me via como um problema, não é mesmo?

Infinitas foram, e hão de ser eternamente, as vezes que me ajoelhei perante os deuses para implorar que trouxessem você de volta a mim. Porém são deuses a quem eu rogo, e deuses são assim, omissos. Na embriaguês do poder e da glória, se esquecem dos homens que nada têm a ofertar em troca de seus benditos milagres – nada têm, por nada possuírem. Cansei-me de esperar por um anjo que venha do céu, foram-se os malditos querubins e nunca mais voltaram para partilhar de minhas caminhadas, meus caminhos. Eu amaldiçôo todo o céu e todo o mar! Sua virtude divina e esplendorosa arrancou de mim o coração, jogou-me ao longe para morrer. Mas do que adianta, se você não voltará mais para mim?

Foram tantos os momentos alheios, acontecimentos adentrando em nossas vidas, que me esqueci de olhar em teus olhos e beijar-te ante todos nossos encontros e desencontros. Fugiu-me a lembrança de que você estava ali, ao meu lado, esperando por um dia melhor. Perdi teu abraço, e choro por não ter teu beijo. Passou o tempo, passou o mundo, mas ficou a dor. O ranger do abrir da porta da frente, a escuridão da sala e o silêncio que confirmava a sua ida sem volta. Pregaram-me essa peça, o mar e a sorte, juntos. Não posso ter sido o culpado, não posso acreditar que fora eu quem fez você me largar. Será?

Como anseio em te encontrar – dizer que te amo. Mas como dizer se não sei mais o que é amar. Nem ao menos sei se estou deitado na rede de descanso ou na rede de malha fina que me fisgou.

Adeus.

1.12.08

_ensaio sobre o "amar"

Amar não é algo que você decide, – não se espantem a toa – que escolhe de uma hora para outra. Há enganos, não posso negar, aliás como começar a amar se não por mero acaso? Um dia no parque, sol do meio dia, meninada no playground, as babás e as mães observando ao longe para não estragar a brincadeira. Você levanta do banco, caminha até um bebedouro para refrescar os pensamentos e pronto! Dá de cara com uma moça que pensou a mesma coisa que você, naquele mesmo momento, naquele mesmo bebedouro. O gaguejar dos dois desconhecidos, o cavalheirismo de sua parte e o sorriso de satisfação da moça. Enquanto sua mais nova colega de sede mata quem a estava matando, os teus olhos não deixam de reparar – “Mas como é bela essa moça! Será que devo perguntar seu nome? Talvez um passeio, um sorvete? Mas que bobo sou eu, com esse corpo ela não deve comer nada que contenha glúten e afins... Opa! Recomponha-se ela está terminando de beber”. Pode beber, ela diz. Você engole o medo e arregala a coragem, mal consegue escutar o que sua boca pronunciou e, finalmente, o sim. Curioso como todas as mulheres que amei, conheci em locais dos mais diversos, dos mais estranhos e com seu pequeno teor de fantasia, fetiche. Não adianta planejar o amor, é uma guerra perdida – dica de profissional. Deixe o trem seguir o rumo, o navio desancorar e quando menos esperar terá ao seu lado, alguém para amar. Nada de aguardos ou anseios, mesmo aqueles do tipo corriqueiros. Afinal, amar não é plano ou garantia, mas é a sensação inesperada de sentir um pedaço de você faltando, no momento certo em que a troca de olhares passa a ser uma troca de almas.

Para bom entendedor, meia palavra basta. Mas para aqueles que precisam de um empurrãozinho a mais, continuo a explicar – sem ressentimentos. "Mergulhar de olhos abertos", isso é amar. Saltar em um lago sem saber a sua profundidade e o que há dentro dele, guardando dentro de si a sensação de que não será nada mais do que um mergulho perfeito e dos mais refrescantes. O amor não é eterno (só enquanto durar), tão pouco é perfeito, mas amar é uma iguaria deliciosa de sabor único – daqueles de prolongar a mastigação e lamber os dedos. Alguns amigos já me diziam que homens e mulheres têm uma coisa em comum, o repúdio e a indignação ao sexo oposto e a necessidade de estar e amar o sexo oposto.

São tantos os tipos de amor para se amar – quem disse que eu estou certo? Tantas amantes para se tentar – ambigüidade proposital – e muito pouco tempo para esperar. Amar é viver com um sorriso besta estampado no rosto, sem saber o porquê – sem nem querer saber.