10.12.08

_fugir (de vez)

Quantas foram as vezes em que perguntaram para você o porque de suas revoltas, o porque de suas vontades, de seus desejos mórbidos? É tão fácil olhar para as pessoas subindo e descendo as ruas com um sorriso conformista no rosto, brincando de tenho-uma-vida-boa. Bando de hipócritas - ha ha ha!

Será que é tão difícil assim assumir que se é infeliz? Todos deveriam encarar a realidade das suas vidas inúteis e desprezíveis e tentar viver com elas, seja lá como for "melhor". Já disse Saramago: "não sou pessimista, o mundo é que é péssimo" - compartilho com certo orgulho das idéias do mesmo. Querem que eu seja mais positivo, mas como? Me mostrem algo nesse mundo que traga felicidade sincera, algo completo e perfeito, amor de verdade, carinho honesto... não tem nada disso nesse mundo esquecido por Deus - você está ouvindo? - que faça de qualquer ser humano, um ser completo e verdadeiramente feliz.

Dinheiro!!! - gritou o imbecil.

O que o dinheiro oferece para todos é a ilusão de uma vida próspera. Se nem mesmo os sentimentos ditos decentes podem suprir o buraco com que nascemos dentro de nós, o que o dinheiro vai poder fazer? Carros, casarões, viagens, "etecétera e tal". Tudo não passa de uma ilusão, afinal aquilo que vem das mãos do homem só pode destruir, só pode fortalecer a auto-destruição tão característica em todos nós homo sapiens sapiens! Velhos podres de rico tem o coração mais podre ainda... são mesquinhos e dignos de dó. Com seus narizes empinados e sua maldita arrogância costumeira de sempre, eles conseguem trazer o pior para esse mundo e para os pobres iludidos que sobrevivem ao redor deles.

Ninguém sabe como é tentar não acordar - não como foi para mim - e falhar miseravelmente todas as vezes, sempre se arrependendo depois por não ter levado tudo adiante. Querem saber como foi? Ouçam minhas palavras! Querem provas? Olhem meus pulsos! Olhem meus olhos! Enxerguem dentro da minha alma e achem o que tanto procuram: dor, sofrimento, solidão, desespero, carência, desilusão, ódio, angústia, raiva, nojo, enjôo. "Seja feliz, vá viajar, não pode ser tão ruim assim, ache Jesus". Chega de tantas mentiras, pra que tudo isso? Você não me conhece, não sabe como eu sou por dentro, não sabe o que eu passei por sua causa - nunca vai querer saber - e por causa de todos os outros... o que eu me permiti fazer, deixar de fazer...

Gostaria de conhecer alguém que pudesse mirar uma arma contra minha cabeça e atirar... atirar... atirar... e atirar mais uma vez. Explodir meu crânio e espalhar todos os pedaços do meu cérebro pela rua, dispersados pelos carros que passam em alta velocidade. Escrevo isso com alegria em meu coração, afinal eles dizem que devemos amar o nosso próximo como amamos a nós mesmos. Não tem ninguém que faça o "próximo" mais feliz do que eu. O "próximo" quer me ver sofrer, cair, chorar, perder, mentir, surtar e ele sabe que consegue isso com pouco esforço. Assim sendo, eu o faço bem, o faço feliz. Sou um perfeito discípulo - cordeiro em meio a lobos - de Deus.

Já fugi e não me arrependi. Fui covarde e ridículo, mas fui livre. Eu podia sorrir sem remorso e podia chorar por estar feliz - coisa rara. Fugiria mais uma vez, mas sem retroceder, sem me desviar do meu objetivo principal. Morrer.

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