25.4.09

_crianças explicadas pelo ódio

Quando dizem que uma criança não pode sentir algo por ser muito nova para entender, os adultos estão afirmando terem esquecidos de suas próprias tristezas e desilusões com suas vidas e com o que o mundo um dia fez para eles. Eles mentem. Talvez com um pouco de compaixão eu consiga concluir que eles estão tão profundamente feridos que preferem negar a eles mesmos a existência de um ser, fruto de um amor, ou apenas sexo, que possa passar ou sentir o mesmo. Mas não é o caso, a compaixão perdeu seu espaço nas minhas palavras e, se tudo der certo, nos meus pensamentos também.
Fora quando crianças que formamos nosso caráter básico. Visualizando o mundo a nossa maneira e suportando tantas regras que nos foram impostas desde que saímos do ventre de nossas mães, ou das provetas geladas. Um pensamento engraçado sempre aflora em minhas lembranças impossíveis de lembrar-me: o tapa da vida. Nascemos apanhando para que possamos receber a vida dentro de nossos pulmões e a razão não poderia ser mais simples, afinal viver é sofrer. Nos arrancam de nosso porto seguro, nos penduram de cabeça para baixo e desvencilham um tapa em nossas nádegas, ainda pálidas, para que o mundo possa ouvir mais um grito de dor e receber outro ser vivo sofredor.
Como eu dizia, as crianças sabem o que se passa ao redor delas, talvez melhor que os adultos. Nós envelhecemos e ficamos caducos, mas as crianças possuem toda a alegria, a juventude e a perspicácia de um detetive profissional. Lembra-se da primeira vez que viu algo pela primeira vez? Eu não lembro o que eram, mas sinto o cheiro das ocasiões e dos sentimentos que exalavam da minha pele. Por exemplo o cheiro de uma bolacha muito conhecida que é coberta por uma espeça camada de chocolate vem até minhas narinas de vez em quando, mas nunca me lembrei da situação. O que isso tem a ver? Esse cheiro sempre me deixou alegre. Não sei que tipo de feitiço ele tem sobre os químicos do meu cérebro, mas ele sempre surte efeito. O cheiro da lembrança.
Agora vamos ás cicatrizes. Quem não lembra da primeira briga dos pais? Do primeiro xingamento sério de um familiar? Do primeiro soco no olho, da primeira lágrima no rosto da mãe, do enterro de um avô, etc? São todos motivos para certas atitudes, fraquezas, disposições e espasmos que temos durante a vida toda. Para afastar os fanáticos religiosos eu tenho uma linha de pensamento que vê o nascimento de uma criança como o único meio que um deus possa se mostrar real perante a sociedade. Sem gente, quem criaria um deus? Até mesmo nossos pais celestes acham que somos ignorantes demais para entender que eles são seres mesquinhos que necessitam de nós para sobreviver. Exato, deuses são nossos servos. Mas isso é outra história.
Na verdade, esqueçam o que leram. Permaneçam agindo e nascendo normalmente. Vivendo suas vidas normais, dentro de suas famílias unidas e perfeitas, comendo no mínimo três refeições por dia, usando roupas da moda custem o que custarem, fazendo novos amigos que só se importam com a marca do seu celular. Somos crias que nascem para tornarmo-nos adubo morto, não é mesmo? - eu discordo, mas sou apenas um filho como todos os outros o são.
Tenha um ótimo dia.


Do seu bom amigo,

Ódio.

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