6.4.09

_andando de quatro

Fazia tempo que eu não parava para pensar. Depois de me espreguiçar um pouco acho que vou até a cozinha ver se encontro alguém, talvez a casa esteja vazia - tanto faz pra mim. Como eu dizia, faz tempo que eu não paro pra pensar um pouco nas coisas, qualquer coisa. Não que a vida esteja muito dura, mas também não estou vivendo a base de leite e mel. Ah, minha cozinha, está branca e tinindo como eu bem gosto. Ainda bem que a Juliana sabe como as coisas tem que ficar. Detesto quando as pessoas não prestam atenção em mim e naquilo que eu mando e desmando, sabe como é, né? Me distraí de novo, mas é que alguém deixou a lata de atum aberta em cima da mesa de jantar e eu não resisto a um enlatado. Talvez só um pedacinho, a Ju não vai perceber - sempre reclama que estou acima do peso. Tá vendo? É disso que eu to falando, ando muito distraído e meus pensamentos não se mantém coesos e firmes. Qualquer petisco ou movimentação estranha e eu já me ouriço e fico posto a desconversar com meus próprios devaneios, mas talvez seja genético. Nunca conheci a minha mãe, mas já ouvi o pai da Ju dizer algo sobre ela. Por mais incrível que a coincidência possa parecer, os dois se conheciam e, seja bom ou ruim, pelo jeitão do pai da Ju falar, talvez eles fossem próximos - até demais. Será que esse tipo de coisa é o que cria esses bloqueios na minha cabeça? Dúvido um pouco, sou esperto demais pra ser levado por meros sentimentos de perda. De volta a sala, acho que vou deitar um pouco no sofá e descansar.

- Nem me olhe desse jeito! - é a Ju, querendo me agarrar.

Toda vez que resolvo deitar no sofá ela não se aguenta e resolve vir correndo pra cima de mim. Não contem pra ninguém, mas a Ju é só um pouco mais alta que eu - talvez em metros.

- Ai!

Pronto ela não se aguentou - pra variar um pouco - e já está apertando as minha bochechas e esmagando a minha cara contra a dela. Quando será que as mulheres vão entender que nós não gostamos dessas coisas? Um carinho de vez em quando até vai, mas ser tratado como um bebezão e esmagar o meu corpo com a mão, alegando estar massageando as minhas costas, é um absurdo berrante! Sou macho, meu Deus, e exijo o devido respeito ao meu espaço, meu tempo. Tá, eu entendo que a Juliana só está tentando demonstrar o seu amor por mim, mas já pensou se o pai dela chega e nos encontra assim? Pois é, esqueci de falar, nós ainda moramos com os pais dela. A mãe dela faleceu a alguns anos e a Ju achou melhor ficar por aqui, eu acho. Portanto, ficar nessa agarração toda a todo momento pode me deixar em maus lençóis, sem contar que o pai da Ju é meio esquisito. Não me entendam mal, não quero dizer que ele é louco, insano ou temperamental no sentido mais negativo da palavra, mas, bom, é isso mesmo na verdade. Pensem o que quiserem, só que um homem daquela idade gritar com a própria filha, porque eu estava andando com as unhas muito compridas, não é o que eu chamo de pessoa sã. E pra completar a minha estupenda e graciosa infelicidade, a Ju, muito prestativa, resolveu dar ouvidos ao velho dela e depois de muita luta me segurou e cortou cada uma das minhas unhas - gostava do jeito que estavam. Será que ela nunca vai sair de cima de mim?

- Toma essa! Pronto, agora você sai, né Ju?

Não sou o tipo machão que bate em mulheres, mas ás vezes elas pedem para tomar uma boa surra, parece que não se tocam que estão incomodando. Opa! Esse barulho foi da porta, lá vem o grande paizão com alguma novidade ou reclamação sem sentido. Ué o que é isso que ele tem nas mãos?

- Ei, não me empurra, seu velho! Ju, você não vai fazer nada?

Parece que se mexe, como se estivesse respirando. Ah não! Não pode ser! Mas é sim.

- Um cachorro? Você sabe que odeio cachorros! Ei, Ju! Nada de ir pegando ele no colo! Não, não!

Era disso que eu estava falando! Acho que não tenho mais espaço nessa casa, pelo menos não pelos próximos quarenta minutos. Ainda bem que eles sempre esquecem a janela da sala aberta, lá fora talvez eu me lembre como faço para voltar a parar e pensar. Fui.

2 comentários:

Bruna Escaleira disse...

miau.
rrrr!

Pedro Sibahi disse...

Putz! É a história de um gato gordo e metido? hahaha :P

Muito legal, quase esqueço de dizer!