24.5.10

_ Virgínia

___Virgínia é uma menina que conquista a todos no canto do seu sorriso puro e sem malícia. É a menininha de todo pai e a amiguinha de toda mãe. De cachos bem torneados e louros, que lhe caem sobre os ombros, saltando como molas para cima e para baixo, enquanto ela saltita por todos os lugares que passa. Sempre alegre e bem quista, com o seu sorriso sem malícia, essa é Virgínia, uma menina crescida para a qual a tristeza parece não existir. Quantos não querem ser Virgínia, quais não querem possuí-la? Sua pureza e os olhos arredondados e amendoados, quase que hipnóticos, nos dão motivo de sorrir em dias frios e cinzas, como o são de costume. É, Virgínia, quem diria? Uma moça assim tão alegre e bem intencionada quanto você, existe não só na imaginação dos perfeccionistas sonhadores, mas na realidade dos coitados também. Eu mesmo invejo tanto esse seu jeito de ser, de viver. Como pode estar tão feliz se o mundo desaba sobre nós? Virgínia, Virgínia... qual seu segredo afinal? Ninguém sorri tanto quanto você e mesmo que sorrisse não nos chamaria a atenção, afinal o seu sorriso é tão mais cheio de dentes. Saltita para cá, saltita para lá. Tão bem educada que chega a ser inebriante a quantidade de “obrigado” e “de nada” que saem da sua boca inocente. Ah, mas quem será você, Virgínia? Me parece tão transparente e distante da realidade cruel. Corre pelas ruas abraçando a todos, agradecendo por coisas que nem fizeram para você. É um sonho de menina. E como sonha essa Virgínia, acordada ou dormindo. A vida lhe parece tão certa que nunca irá reclamar da chuva, nem da seca. Na sua infantilidade, Virgínia entende o mundo como ninguém e por isso está sempre a sorrir, cantar e a abraçar a todos nós. Que bela é essa Virgínia; lá vem correndo e saltitando, mais uma vez, em nossa direção para nos agradar e nos abraçar. Afinal, Virgínia, porque se esconde tanto? De que tanto tem medo nessa vida que não pode reservar, a si mesma, um segundo de sofrer? É tão dura a realidade que prefere esconder o seu ódio pelas pessoas que agrada com um sorriso tão esticado que chega a deformar o seu rosto? Por que, Virgínia? Por quê? Sua santidade, sua pureza, é tão falsa quanto a calda de uma lagartixa, que ao menor sinal de perigo se solta do corpo e entra num estado epilético hipnótico, enquanto você foge para fazer crescer uma nova máscara. Virgínia a quem você quer enganar com tantos elogios sem motivos? Virgínia, Virgínia... é tão perversa que chega a me dar dó. As suas atitudes não refletem a sua verdade, talvez, para alguns, passe uma falsa realidade, mas eu a vejo de verdade, Virgínia. Medrosa, maldosa, escondida nos trejeitos de uma religiosa; essa é você Virgínia e você o sabe. Quantas vezes não cuspiu no seu reflexo no espelho? Quantas vezes não quis gritar e reclamar? Pra quê tanta falsidade assim, Virgínia? Do que tem tanto medo? Será do desprezo dos outros ou do desprezo de si mesmo? Ah, Virgínia, coitada de você, não para de saltitar e sorrir, mas a lágrima que vejo escorrer do seu rosto, hoje, faz-me rir.

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