13.4.09

_seleção natural ou a sobrevivência dos mais adequados

tava tudo bem
até você chegar
eu, meu teclado
e o papo pro ar

te nomearam 'tão'
se disse 'meio'
eu pedi que 'não',
mas fiquei no serão

digitei palavras
de poucas gostei
levou o crédito
e não me liguei

aplauso doido
arrebentou meu ouvido
de tanto segurar
desenfreio no falar

não existia o ócio
meu devaneio era profissional
pediram-me para ser dócil
tento ser racional

só esqueceram de
dizer-me o essencial
carteira é assinada
por seleção natural

sangue novo necessário?
não sou em nada quadrado
tento apenas sobreviver
como um dos mais adequados

8.4.09

_vou até o fim

Uma das piores sensações que se pode sentir é a saudade. Não a saudade natural de alguém, de um passado, de uma lembrança ou de um local, mas a saudade de algo que ainda não se teve - e quem sabe, nunca terá.
Aqueles momentos em que estamos acompanhados dos melhores amigos em uma festa com tudo o que gostamos acontecendo ao nosso redor e todos os aspectos da sua vida em pleno equilíbrio, mas de alguma forma algo parece errado. Tão errado que torna toda aquela cena triste.
Meu organismo teima em me dizer que eu estou sempre solitário, sem amigos de verdade, sem motivos coesos o suficiente pra sorrir e gargalhar. 'Sabe porque gosto do seu filho? Ele sempre entra na sala com um sorriso no rosto' - essa foi a frase que uma professora de inglês disse a minha mãe numa reunião, enquanto todos os outros professores a faziam lembrar de como eu era um péssimo filho.
Sempre lembro dessa frase, porque ela diz muito ao meu respeito. Eu realmente estou (quase) sempre sorrindo e muitas vezes gargalhando com as brincadeiras que fazem comigo ou que eu faço com os outros, mas até aí isso não significa nada. Eu mesmo cheguei a dizer que quem muito sorri pra vida está escondendo um ser deprimido e cheio de seqüelas por trás das máscara da felicidade.
Não me relaciono bem com minha mãe, me afasto quase que fisiologicamente do meu pai, não consigo ter um laço positivo com meu padrasto e ainda tenho preferencia gritante entre os meus irmão. Essa é a minha vida familiar. Complicada, chata, insuportável e o motivo mais que principal de eu me esconder tanto por trás da máscara da felicidade infeliz.
Eu rio e sorrio, por sentir vontade. Por me sentir feliz e alegre, é claro, mas são apenas momentos. Depois todo o impacto da realidade volta esmagando e triturando tantos sonhos que eu tive vontade de realizar desde a infância.
Uma vez, uma amiga me perguntou: 'Como você ainda está vivo?'. Na hora, todos em volta cutucaram ela, pois acharam a pergunta um pouco pejorativa, mas eu gostei. Nunca tinha pensado e se tivesse, nunca teria sido impulsionado por outra pessoa.
Anos se passaram, as situações difíceis se tornaram insuportáveis, as relações familiares ainda mais complicadas e minha cabeça um poço de pensamentos negativos.
Até que eu percebi que eu sorrio, rio, pulo, grito, abraço, beijo, amo e vivo por acreditar em uma única frase:

'Nada que valha a pena nesse mundo vem fácil'.

6.4.09

_andando de quatro

Fazia tempo que eu não parava para pensar. Depois de me espreguiçar um pouco acho que vou até a cozinha ver se encontro alguém, talvez a casa esteja vazia - tanto faz pra mim. Como eu dizia, faz tempo que eu não paro pra pensar um pouco nas coisas, qualquer coisa. Não que a vida esteja muito dura, mas também não estou vivendo a base de leite e mel. Ah, minha cozinha, está branca e tinindo como eu bem gosto. Ainda bem que a Juliana sabe como as coisas tem que ficar. Detesto quando as pessoas não prestam atenção em mim e naquilo que eu mando e desmando, sabe como é, né? Me distraí de novo, mas é que alguém deixou a lata de atum aberta em cima da mesa de jantar e eu não resisto a um enlatado. Talvez só um pedacinho, a Ju não vai perceber - sempre reclama que estou acima do peso. Tá vendo? É disso que eu to falando, ando muito distraído e meus pensamentos não se mantém coesos e firmes. Qualquer petisco ou movimentação estranha e eu já me ouriço e fico posto a desconversar com meus próprios devaneios, mas talvez seja genético. Nunca conheci a minha mãe, mas já ouvi o pai da Ju dizer algo sobre ela. Por mais incrível que a coincidência possa parecer, os dois se conheciam e, seja bom ou ruim, pelo jeitão do pai da Ju falar, talvez eles fossem próximos - até demais. Será que esse tipo de coisa é o que cria esses bloqueios na minha cabeça? Dúvido um pouco, sou esperto demais pra ser levado por meros sentimentos de perda. De volta a sala, acho que vou deitar um pouco no sofá e descansar.

- Nem me olhe desse jeito! - é a Ju, querendo me agarrar.

Toda vez que resolvo deitar no sofá ela não se aguenta e resolve vir correndo pra cima de mim. Não contem pra ninguém, mas a Ju é só um pouco mais alta que eu - talvez em metros.

- Ai!

Pronto ela não se aguentou - pra variar um pouco - e já está apertando as minha bochechas e esmagando a minha cara contra a dela. Quando será que as mulheres vão entender que nós não gostamos dessas coisas? Um carinho de vez em quando até vai, mas ser tratado como um bebezão e esmagar o meu corpo com a mão, alegando estar massageando as minhas costas, é um absurdo berrante! Sou macho, meu Deus, e exijo o devido respeito ao meu espaço, meu tempo. Tá, eu entendo que a Juliana só está tentando demonstrar o seu amor por mim, mas já pensou se o pai dela chega e nos encontra assim? Pois é, esqueci de falar, nós ainda moramos com os pais dela. A mãe dela faleceu a alguns anos e a Ju achou melhor ficar por aqui, eu acho. Portanto, ficar nessa agarração toda a todo momento pode me deixar em maus lençóis, sem contar que o pai da Ju é meio esquisito. Não me entendam mal, não quero dizer que ele é louco, insano ou temperamental no sentido mais negativo da palavra, mas, bom, é isso mesmo na verdade. Pensem o que quiserem, só que um homem daquela idade gritar com a própria filha, porque eu estava andando com as unhas muito compridas, não é o que eu chamo de pessoa sã. E pra completar a minha estupenda e graciosa infelicidade, a Ju, muito prestativa, resolveu dar ouvidos ao velho dela e depois de muita luta me segurou e cortou cada uma das minhas unhas - gostava do jeito que estavam. Será que ela nunca vai sair de cima de mim?

- Toma essa! Pronto, agora você sai, né Ju?

Não sou o tipo machão que bate em mulheres, mas ás vezes elas pedem para tomar uma boa surra, parece que não se tocam que estão incomodando. Opa! Esse barulho foi da porta, lá vem o grande paizão com alguma novidade ou reclamação sem sentido. Ué o que é isso que ele tem nas mãos?

- Ei, não me empurra, seu velho! Ju, você não vai fazer nada?

Parece que se mexe, como se estivesse respirando. Ah não! Não pode ser! Mas é sim.

- Um cachorro? Você sabe que odeio cachorros! Ei, Ju! Nada de ir pegando ele no colo! Não, não!

Era disso que eu estava falando! Acho que não tenho mais espaço nessa casa, pelo menos não pelos próximos quarenta minutos. Ainda bem que eles sempre esquecem a janela da sala aberta, lá fora talvez eu me lembre como faço para voltar a parar e pensar. Fui.

1.4.09

_b de burrice

Deixe eu me apresentar.

Por muitas vezes, em aspectos adversos da vida, fui considerado algo tão inferior quanto um anus de cobra. Disto, tiramos que a associação deste órgão animal remete ao fato de ser uma metáfora, deveras real, daquilo mais baixo que encontramos na face desta terra. Porém, tanto quanto eu sei, é uma fatalidade utilizar os animais como exemplo mesquinho e pejorativo para ofendermos aqueles que não acreditamos fazerem parte dos nossos mesmos patamares intelectuais. Isto, pois os animais são seres altamente complexos. Desde a sua maneira de pensar, chamada instinto, como a sua funcionabilidade - e com isso a de seu organismo. Mesmo assim, os opressores que criaram este sistema feroz e selvagem como as mais densas florestas amazonicas, são os verdadeiros objetos de tal referência a minha pessoa. Tavez eu seja o ponto final que inicia uma frase. O fogo que arde no inferno para queimar cada fibra mortal de todos os seres indecentes e corruptos que já pisaram na face da terra, apenas para marcar, matar e crucificar o povo inocente!

Hahahaha... deveras me excedi!

Mas deixe de lado essa máscara que uso para esconder o meu verdadeiro nome e dizer que sou seu servo e que pode me chamar de "amigo".

Pode perguntar se sou burro e serei honesto em responder que ouvirá muito isso por aí.