3.8.09

_ tempo roubado

roubaram meu relógio
me fizeram desfeito
tinha horário pro trabalho
agora nem o tenho para mim mesmo

levaram pro conserto
o relógio do cume da igreja
tinha horário pra missa
agora nem o tenho para mim mesmo

corro atrás de um tempo
alguém que o tenha muito para emprestar
tinha horário pra ter pressa
agora nem o tenho para me acalmar

ninguém usa mais relógio
e quem tem hora pra dar é ciumento
tinha horário pra me revoltar
agora nem o tenho para me acalmar

sem tempo pra mais nada
cheguei a porta do meu trabalho
tinha horário pra ser esperto
agora nem o tenho para me lembrar... hoje é sábado

_ quê? nada!

tomo meu tempo com nada
ninguém precisa de muito pra ter nada
tanta coisa pra fazer e eu aqui
fazendo?
nada

e quem vai me impedir?
fazer nada não é de ninguém
fico parado sem incomodar
pensando no que?
nada

nada pra fazer é nada pra sentir
nunca tem sabor de acabado
mas nada tem odor de relaxo
com o que me incomodo?
nada

não tenho que pedir permissão
nem vão me multar
nada não é privatizado
o que quero?
nada

a mundo não tem solução
é muita gente tentando algo
se atropelam nas resoluções
o que devem fazer?
nada

_ Carmela

Carmela era moça bandida
roubava os corações perdidos
nas esquinas esquecidas
da nova Avenida Paulista

com seu olhar penetrante
cheios de intuito do mesmo
fisgava sua presa pelo cavalo da calça
e os ensinava a amar

Carmela tinha apenas vinte anos
mas já sabia pai nosso e ave maria
se virava sozinha pelas esquinas
que andava, trabalhava e dormia

tinha aprendido: 'com homem não se brinca'
a mão pesada sobre o rosto não esquece
anda agora com uma ponto quarenta
que roubará de um sargento infiel

Carmela era conhecida na região
ninguém mexia com ela senão...
era pistoleira de coração lavado
matava dois ou três com um sorriso mal escovado

havia prometido muito para a filha
viagem pra Disney e uma vida de estudada
precisou ir no médico e se arrependeu
foi saudável e voltou com recomendações fúnebres

Carmela estava morrendo
com uma filha que o mundo ia tomar e criar
ela deixava esse mundo com um suspiro
'não vá fazer o que eu fiz'

a filha de Carmela cresceu e se tornou mulher
fez da vida sua profissão, como era esperado
agora, Janaína era moça bandida
e roubava os mesmo corações perdidos que sua mãe

_ queria querer

eu queria começar
um plano infalível
uma vida plena
um mundo novo,
repleto de paz e amor

eu queria recomeçar
um amor despedaçado
uma família apartada
um garoto morto,
banhado em seu sangue

eu queria realizar
um ato de bravura
um milagre descrente
uma música suave,
que falasse com o coração dos fracos

eu queria
eu poderia
quem saberia?
quanto valeria
um pouco de querer?