7.1.09

_mas quem sou eu?

aquela moça do vestido branco
de bolinhas vermelhas - um encanto -
vai me fazer sofrer
minha alma vai queimar devagar
ela está atrás do chafariz
está se escondendo dos meus olhos,
mas quem é que me diz
que posso viver sem passar por tudo isso
outra vez?

tava lá na casa de Maria
tão mirrada, tão doce, tão linda
pequena menina
de tranças longas e olhar tão puro
como fui burro
em achar que era eu que iria desvirtuar
o caminho que ela nasceu pra rumar
laialaiá!

mas quem sou eu?
quem sou eu?
pra dizer o que é
ou o que deixa de ser
quem sou eu?
preciso deixar acontecer sozinho
deixar a maré remar o seu destino
mas quem sou eu?

ah, mas nem tudo é tão simples
difícil de se fazer entender
pegou na minha mão trêmula e disse
para eu parar de sofrer
as palavras entraram nos ouvidos,
penetraram o coração
mergulhei naquela doce ilusão
sai, solidão!

mas quem sou eu?
quem sou eu?
pra dizer o que é
ou o que deixa de ser
quem sou eu?
preciso deixar acontecer sozinho
deixar a maré remar o seu destino
mas quem sou eu?

6.1.09

_ãos da guerra

Sem motivo, sem razão
Sem ciência, sem noção
Caminha a tropa de supetão
O tiro arrombou o portão
Derrubou as defesas do capitão
Saquearam tudo, gastaram munição
Explosões chamaram a atenção
Morreram morridos ou de humilhação
Venceram a batalha, massacraram uma nação
Há quem diga que foi tudo armação
Vazaram as coordenadas da invasão
Boom, boom, boom - explosão
Quantas almas são?
Quantas armas são?
Todo o sentimento de indignação
Deixado de lado pelo ódio de paixão
E os vitoriosos onde é que estão?
Os vivos onde estarão?
Para onde todos eles vão?

4.1.09

_conversa de botequim (salgado estragado)

"Cansei de comer isso!"

"Cansou de comer ou cansou disso?"

"Qual a diferença? Odeio quando começa com essas perguntas."

"Tudo é diferente. Nada é igual."

"Ontem mesmo você disse que nada se cria, tudo se copia. O que mudou de lá pra cá?"

"Tudo. Obama ganhou a eleição."

"Continuo me surpreendendo. Andou lendo? Isso que é mudança."

"O que será do Iraque agora?"

"Acho que nada. Vão só mudar as tropas de países. Daqui pra cá, só."

"Muda o presidente, muda o alvo. Quando vão derrubar a estátua da liberdade?"

"Não sei. Algum plano?"

"Não... Vai jogar isso fora?"

"Toma! Se bem que quem vai tomar mesmo é o povo daquela região."

"Devem estar acostumados."

"Conformismo é uma praia na qual eu não pretendo surfar."

"Você surfa?"

"Começou com as perguntas de socialização."

"Tem algo que você não odeie?"

"No mundo ou em você?"

"Eu sou seu mundo."

"Tá respondido..."

"Esse salgado tá horrível! Porque não me avisou?"

"Culpa da globalização."

3.1.09

_faroeste noturno

Como um filme de bang-bang italiano
Se é mocinho(a) ou bandido(a), tanto faz
Mãos no rosto e braços entrelaçados na cintura
(Silêncio)
Uma pausa - momento racional
"Ainda estão alí?"
"Acho que não acordam, lembra-se daquela vez?"
(Silêncio)
Esquenta o clima, esquenta o tempo
O toque simula o desejo, materializando-se
(Barulho)
"Que foi?"
"Não ouviu? Acho que acordaram..."
Esfria o linque, mas o calor mantém-se alojado
Aguardam um ao outro, sem demonstrar - disfarce mal produzido
"Estão do mesmo jeito."
"Que confusão. O que fazemos?"
"Não sei..."
Puxa pelo braço, deitam-se lado a lado
(Silêncio)
Apenas o estalo de um beijo
Um momento desprevinido - uma risada
Poucas trocas de olhares, até agora
Pára tudo...
"Vamos dormir!"